O ano era 1988 e estava sendo realizada mais uma edição do Festival de Dança de Joinville. O Balé Folclórico da Bahia (BFB) surgiu como companhia formalizada devido ao festival joinvilense. Vavá Botelho era diretor de produção e administração do Balé Castro Alves, que foi o convidado especial do Festival de Dança de Joinville naquele ano, para celebrar os 100 anos da abolição da escravidão no Brasil, com uma coreografia contemporânea apresentada na abertura oficial do festival.
Depois de tudo acertado, a participação do balé castro Alves garantida, Vavá Botelho foi perguntado pela direção do festival de Joinville sobre a existência de algum grupo tradicional e autêntico de folclore baiano para fazer a abertura da noite popular do festival, dedicada ao centenário da abolição. Como esse grupo já existia e foi criado pelo próprio Vavá em 1987, acabou tendo papel muito importante para preencher uma lacuna deixada pelo fechamento do Balé Folclórico Viva Bahia, o primeiro fundado no estado pela folclorista, compositora, escritora, professora e multiartista Emília Biancardi Ferreira. Foi através do Viva Bahia que Vavá Botelho descobriu o gosto pelo folclore e também se tornou bailarino, cantor e percussionista. O axé, o pagode e a lambada ainda não estavam em ascensão e o público não deixava de lado as apresentações de shows folclóricos.
O que era para ocupar o espaço deixado pelo Viva Bahia, acabou sendo uma grande oportunidade para as manifestações do folclore. Todos os eventos culturais, científicos, em cada esquina e espaço era motivo para ter um show folclórico, conta Vavá Botelho.
Com toda a carga de informações que tinha extraídas do trabalho no Viva Bahia, Vavá Botelho juntou outros profissionais da área, alguns deles seus amigos, que estavam em outras companhias, e tocou o trabalho. Mas logo os parceiros seguiram outros caminhos e foi então que Vavá tocou sozinho o grupo, que ainda não era balé folclórico e nem companhia. E foi acreditando na qualidade do grupo que tocava e conhecia tão bem, que sugeriu a participação no Festival de Dança de Joinville. A sugestão foi aceita, mas o contrato exigia que o grupo tivesse um nome oficial.
Foi então que Vavá Botelho, inspirado nas companhias folclóricas de vários países, batizou o grupo de Balé Folclórico da Bahia. Tudo fechado, depois cinco dias da apresentação do Balé Castro Alves, que já tinha retornado a Salvador, o grupo recém formalizado como Balé Folclórico da Bahia veio para Joinville, com quase nada de estrutura, numa viagem de ônibus de cinco dias, com jovens bailarinos que sonhavam muito em pisar no palco do Festival de Dança de Joinville. Dos momentos inusitados, conta Vavá que até bailarino disfarçado de trouxa de roupa estava no ônibus, coisa que ele descobriu somente durante a viagem. O personagem em questão é Jorge Silva, que virou lenda e até hoje é lembrado com muito humor porque foi “bagagem” em sua trajetória profissional de bailarino e hoje renomado coreógrafo internacional.
Vencidas as dificuldades, finalmente o grupo se apresentou no Festival de Dança de Joinville, com sucesso estrondoso, tanto que foi chamado para se apresentar em mais duas noites do festival e ainda fez uma pequena turnê por Santa Catarina, viabilizada pelo governo do estado na época. Foi quando o Balé Folclórico da Bahia se apresentou pela primeira vez no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), em Florianópolis. “Nessa ida a Joinville e a turnê por Santa Catarina fomos muito bem tratados. Foi uma fartura de comidas típicas do Sul. Fomos muito bem acolhidos por todos, como estrelas mesmo. Mas foi 15 anos depois, quando fizemos a abertura oficial do Festival de Joinville, que de fato nos sentimos grandes estrelas e assim fomos reconhecidos, depois da gente já ter ganhado o mundo”, conta com muita gratidão e orgulho Vavá Botelho. “Voltar a Florianópolis agora vai ser muito especial e espero encontrar muitas pessoas importantes que fizeram a história do Festival de Dança de Joinville e a nossa história”, acrescenta o diretor do Balé Folclórico da Bahia.

VAVÁ BOTELHO – Criador e diretor do BFB Foto/ Andrew Eccles
” O Balé Que Você Não Vê”
O internacionalmente aclamado Balé Folclórico da Bahia (BFB), que já se apresentou em mais de 30 países e 300 cidades do mundo, realiza turnê nacional com o espetáculo “O Balé Que Você Não Vê”. Para comemorar os 37 anos da companhia, a jornada está levando a arte do grupo para as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país.
Em Florianópolis, a apresentação será nesta sexta-feira, 17 de outubro, no Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura, às 20h30. Os ingressos para a sessão única estão à venda na diskingressos.com.br . A produção local é da Orth Produções.
Criada em 2022, a montagem de “O Balé Que Você Não Vê” cravou o retorno do Balé Folclórico da Bahia aos palcos após o período da pandemia. O espetáculo é inspirado na luta diária de uma companhia profissional para se manter ativa, tanto financeiramente quanto tecnicamente. Walson (Vavá) Botelho, diretor-geral e fundador da companhia,
afirma que “O espetáculo O Balé Que Você Não Vê reflete a nossa resistência. Ele foi montado e teve sua estreia mundial depois de mais de dois anos sem a companhia se apresentar. Foi um enorme desafio, mas também uma grande celebração”. No palco, o grupo de dança afro-baiana apresentará três coreografias concebidas especialmente para esta produção: Bolero, de Carlos Durval; Okan, de Nildinha Fonseca; e 2-3-8, de Slim Mello,
além de exibir o repertório clássico do grupo, com Afixirê, uma coreografia de Rosângela Silvestre reconhecida internacionalmente.
A manutenção da qualidade artística do Balé demanda um esforço contínuo. Vavá conta que “A realidade da companhia envolve muita preparação e disciplina, um trabalho exaustivo e diário”. Ele também pondera que “Poucas companhias de dança privadas sem patrocinador regular conseguem existir por tanto tempo, mantendo um nível de excelência técnica tão elevado e respeito do público e da crítica”. Além da imersão na dança, música, capoeira, canto e teatro, os bailarinos do BFB recebem preparação em dança clássica, moderna e contemporânea, evidenciando a amplitude de sua formação.
Serviço:
O que: Turnê Balé Folclórico da Bahia (BFB) – Espetáculo “O Balé Que Você Não Vê”
Quando: 17 de outubro
Local: Teatro Ademir Rosa (CIC)
Horário: 20h30 horas
Venda de Ingressos: diskingressos.com.br