"Blue World" resgata gravações perdidas de John Coltrane

12.11.2019 | 19h20 - Atualizada em: 12.11.2019 | 19h17
Por Marina Martini Lopes
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Na época das gravações, Coltrane assumiu o projeto como freelancer, sem o conhecimento de sua gravadora

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Originalmente gravadas em 1964 para a trilha sonora de um filme, as fitas permaneceram inéditas até setembro deste ano

Imagine descobrir uma pintura inédita de Rembrandt ou de Van Gogh há muito perdida em um sótão ou um armário empoeirado. Algo assim aconteceu no mundo musical no início dos anos 2000, quando a fita mestra para a trilha sonora de um filme, gravada pelo quarteto de John Coltrane, foi encontrada nos cofres do National Film Board, no Canadá - o material estava armazenado por lá desde 1964. Na época das gravações, Coltrane assumiu o projeto como freelancer, sem o conhecimento de sua gravadora, a Impulse! Records - o que explica em parte por que quase ninguém sabia sobre a existência das fitas, que foram levadas para o Canadá logo após ser registradas.

Foto: Divulgação

A trilha sonora redescoberta foi finalmente lançada em setembro deste ano, como o álbum Blue World. Gilles Groulx, o cineasta canadense por trás do projeto Le Chat dans le Sac, para o qual encomendou a trilha sonora, conheceu Coltrane por meio do baixista Jimmy Garrison, e acompanhou pessoalmente as gravações da trilha, realizadas pelo engenheiro de som Rudy Van Gelder em seu estúdio em Englewood Cliffs, Nova Jersey. Carol Faucher, do National Film Board (NFB), foi quem encontrou as gravações originais, enquanto pesquisava os filmes de Groulx. Já Frédéric Savard, também do NFB, leva créditos por ter insistido na restauração e divulgação das músicas.

John Coltrane lançou dois álbuns em 1964: Crescent, e aquele que é considerado sua obra-prima, A Love Supreme. Das gravações que deram origem a Blue World, apenas dez minutos foram usados em Le Chat dans le Sac; filme que ganhou popularidade em Montreal nos anos 1960. No ano passado, outro registro inédito do músico, Both Directions at Once: The Lost Album (1963) foi descoberto e lançado, tendo vendido mais de 250 mil cópias - um feito raro para um disco instrumental de jazz. É interessante imaginar quantos trabalhos perdidos e ainda inéditos de Coltrane - e de tantos outros artistas - podem existir por aí. Só nos resta torcer para que aos poucos essas pérolas musicais venham à tona.

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