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Histórias de artistas são contadas em produções disponíveis no serviço de streaming
Lançado recentemente no cardápio da Netflix, o documentário com pitadas de ficção Rolling Thunder Review voltou a reunir uma dupla de gigantes: o cineasta Martin Scorsese e o músico Bob Dylan, já biografado de maneira mais formal pelo diretor em No Direction Home (2005). No embalo da novidade, listamos outras produções documentais disponíveis no catálogo da plataforma de streaming dedicadas a nomes que representam diferentes gêneros, de Keith Richards e George Harrison a Michael Jackson e Beyoncé, passando por John Coltrane e Nina Simone. Confira:
EUA, 2019, de Martin Scorsese.
Martin Scorsese desafia os limites entre realidade e ficção neste filme sobre Bob Dylan. Por conter entrevistas ensaiadas com atores posando de personagens reais, há quem não considere o longa como um documentário "puro". Já os fãs de Dylan argumentam que o modo mais adequado de documentar a trajetória do cantor, que sempre confundiu a imprensa e falseou sua biografia, é justamente confundir o espectador.
O filme trata de uma das mais famosas e atípicas turnês de Bob Dylan, a Rolling Thunder Revue, que circulou entre 1975 e 1976 pelos EUA agregando pelo caminho nomes como Joni Mitchell, Joan Baez, Roger McGuinn, o poeta Allen Ginsberg e o roqueiro glam Mick Ronson. Imagens de arquivo, com um coleção de clássicos de Dylan tocados ao vivo, se mesclam com depoimentos atuais relembrado a famosa turnê.
EUA, 2011, de Martin Scorsese.
O emocionante tributo que Scorsese ergueu em homenagem a George Harrison (1943 - 2001) foi dividido em duas partes. Se a primeira traz histórias e cenas manjadas dos fãs dos Beatles, destacando a presença de Harrison na ascensão e auge dos Fab Four, a segunda é mais interessante por revelar, com muitas imagens raras, outro lado menos conhecido do músico. Esse segmento começou na época do Álbum Branco (1968) com as tentativas de Harrison em emplacar mais músicas no repertório da banda - competindo com a dupla Lennon e McCartney e criando pérolas como Why my Guitar Gentle Weeps e Something -, sua insatisfação com o papel secundário no grupo e o início da carreira solo, com o álbum duplo All Things Must Past (1970), no qual apresentou muitas belas canções que não havia conseguido gravar com ex-parceiros.
O documentário também destaca a imersão do músico na espiritualidade, o episódio em que Eric Clapton se apaixonou pela mulher de Harrison, Pattie Boyd, as investidas do beatle como produtor de cinema, bancando os chapas do grupo humorístico Monty Python e sua luta contra o câncer.
EUA, 2015, de Morgan Neville.
A produção narra a trajetória do icônico guitarrista dos Rolling Stones da infância à fama mundial. No filme, Richards – que na época promovia o lançamento do disco solo Crosseyed Heart – fala sobre as pessoas, os lugares e os sons que o influenciaram, como a música folk americana, o jazz, o blues, Johnny Cash e Muddy Waters. E ri da imagem que sustenta aos olhos de grande parte do público, envolvendo drogas e álcool, sem, no entanto, deixar de lado a postura rebelde. "Poucas pessoas querem tocar como Chuck Berry, porque é como enfrentar o diabo. Eu quero", diz Richards no filme.
A direção é de Morgan Neville, vencedor do Oscar em 2014 por A um Passo do Estrelato,produção sobre grandes cantores que não conseguira emplacar suas carreiras solo e fizeram fama como vocalistas de apoio de grandes artistas.
Inglaterra, 2018, de Michael Epstein.
Imagine, álbum de John Lennon e Yoko Ono, lançado em 1971, inspira a produção realizada pela emissora britânica Channel 4. A proposta é fazer uma grande imersão nos bastidores do disco e da faixa de mesmo título que se tornou sucesso mundial. Neste filme, os fãs dos Beatles assistem a Lennon interagindo com George Harrison, Eric Clapton e o produtor Phil Spector durante as gravações.
Na época, Lennon e sua família viviam em um casarão bucólico na Inglaterra, atmosfera que foi impressa no álbum. O longa aborda ainda os acontecimentos que levariam Lennon e Yoko a se mudar para Nova York, nos EUA. A direção de John e Yoko: Só o Céu como Testemunha é de Michael Epstein, vencedor de dois Emmys e indicado ao Oscar de Melhor Documentário por The Battle Over Citizen Kane (1996).
Brasil, 2017, de Otavio Juliano.
O longa-metragem acompanha a banda mineira Sepultura ao longo de seis anos, em turnês mundiais, fora dos palcos e em gravações de discos, como Machine Messiah (2017). Um show com a atual formação da banda – Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) – forma o eixo da narrativa, entrecortada por depoimentos e imagens de arquivo que passam em revista os mais de 30 anos da fulgurante carreira do grupo.
Entrevistados como Lars Ulrich, do Metallica, Phil Campbell, do Motorhead, e Scott Ian, do Anthrax, destacam no filme o impacto provocado pela sonoridade original que o Sepultura apresentou combinando no peso elementos característicos da música brasileira, em especial os percussivos. Mas o estresse da vida na estrada, a fama e o dinheiro, segundo conta Kisser no documentário, começaram a minar a "brodagem" que marcava a convivência da banda, fissuras que levaram às saídas, em momentos diferentes, dos irmãos Max e Iggor Cavalera, fundadores da banda.
EUA, 2004, de Joe Berlinger e Bruce Sinofsky.
O documentário acompanha a tensa gravação do disco St. Anger (2003). À época, a imagem da banda estava desgastada devido à briga com o Napster, site pioneiro na troca de arquivos musicais na internet. Além disso, o baixista Jason Newsted havia abandonado o barco e o guitarrista e vocalista James Hetfield enfrentava o alcoolismo.
O filme é, literalmente, uma lavagem de roupa suja em público: a produção exibe, por exemplo, uma sessão de terapia em que o baterista Lars Ulrich se encontra com Dave Mustaine, que foi expulso do Metallica em 1983 e posteriormente fundou o Megadeth. Em 2005, o Independent Spirit Awards consagrou Metallica: Some Kind of Monster com o prêmio de Melhor Documentário.
EUA, 2011, de James Moll.
Dave Grohl é uma das lendas vivas do rock mundial. Vocalista do Foo Fighters, o artista é um dos elementos mais importantes do documentário Back and Forth, que conta a trajetória de sua banda, fundada logo após o fim do Nirvana, decorrente da morte de Kurt Cobain, em 1994. A produção faz uma linha temporal desde as gravações demo até chegar a Wasting Light, disco lançado em 2011.
No entanto, o material vai muito além disso. Por ser uma banda formada pelo ex-baterista do Nirvana, a história de Grohl se mistura a bandas como Sunny Day Real State, The Germs, Hovercraft, Queens of the Stone Age, Scream e o próprio Nirvana. A produção é assinada por James Moll, dos filmes Running the Sahara (2007) e The Last Days(1998), vencedor do Oscar de Melhor Documentário.
EUA, 2015, de Liz Garbus.
Produzido pela própria Netflix, a produção sobre a cantora, pianista e compositora Nina Simone mostra a artista em toda a intensidade com que viveu - e cantou. O documentário apresenta trechos curtos de suas canções, que são costurados com as falas dos entrevistados.
É difícil esquecer o rosto expressivo de Nina nos momentos de fúria, nos quais vomitava seus demônios em quem estivesse à frente - a plateia, inclusive, como no caso do festival de Montreaux de 1976, que Liz Garbus acompanhou in loco. Nina foi rejeitada em bancos escolares por ser negra e em rádios por seu radical ativismo social. Foi surrada pelo marido e incompreendida em sua personalidade bipolar. Em sua trajetória, contudo, nada se justifica por relações simplórias de causa e efeito.
A diretora consegue dar conta do grande mosaico de fatos em torno da estrela em função da impressionante sinceridade dos depoimentos de Nina e do próprio Andrew Stroud, militar que assumiu os papéis de empresário e marido da cantora.
EUA, 2017, de Chris Moukarbel.
Quinto álbum de estúdio de Lady Gaga, Joanne foi a investida da cantora pop na música country. Todo o processo de gravação do disco e a luta da artista contra a fibromialgia estão no documentário lançado pela Netflix, que também relata as polêmicas da artista com Madonna.
"Vocês verão uma mulher que é uma artista, que cria o dia inteiro, pensa o dia todo, e também vive as experiências como uma artista e como uma celebridade. Essas duas coisas se colidem, e você verá como elas estão em conflito. Eu apareço 100% autêntica, simples. Ninguém está explicando o que sou ou me rotulando como uma artista feminina neste filme. O documentário é sobre isso", disse Gaga, na época do lançamento, à revista Entertainment Weekly.
As relações de Gaga com a família também são detalhadas. O documentário mostra uma visita da artista a sua avó, que explica sobre a origem do nome Joanne - uma tia que a cantora não teve a oportunidade de conhecer.
2019, EUA, de Beyoncé e Ed Burke.
Mesmo quem não esteve presente no Festival Coachella, em 2018, nos EUA, sabe o quanto Beyoncé fez história com sua performance. No primeiro grande show após a pausa para o nascimento dos gêmeos Rumi e Sir Carter, a cantora apresentou, em dois dias, um espetáculo histórico. Foi a primeira artista negra a subir ao palco como principal atração do festival e fez da performance um engajado ato de celebração à cultura negra, falando sobre racismo e representatividade.
Várias faixas da trilha sonora ficaram entre as mais ouvidas do Spotify na semana em que o longa-metragem foi lançado. O filme rendeu ainda um álbum ao vivo. Os fãs de Bey, é claro, amaram.
EUA, 2009, de Kenny Ortega.
O documentário This is It é o passo derradeiro pelo qual Michael Jackson gostaria de ser lembrado. Este capítulo final da existência do Rei do Pop foi em grande estilo. Surpreendeu os que esperavam um aceno desesperado por atenção da figura decrépita que havia deixado de brilhar nos estúdios e palcos para ser protagonista do freak show que antecipou sua morte artística ainda em vida. Mas, para alegria dos fãs que nunca desistiram dele e queixos caídos dos descrentes, quem surge em primeiro plano no filme é o artista soberano e em plena forma.
This is It traz os bastidores do espetáculo que Jackson ensaiava até momentos antes de morrer, em junho de 2009. E ele parecia ter a certeza de que a série de 50 shows que estava por estrear em Londres seria histórica, o primeiro degrau na volta ao topo. Na busca pela nota certa, pelo compasso perfeito, pela coreografia exata, Jackson é exigente consigo e com o time de excepcionais músicos e bailarinos que recrutou. Mostra-se generoso com os parceiros e atento às sugestões, mesmo que todos ali saibam quem manda.
Dirigido por Kenny Ortega, também responsável pelo espetáculo, This is It combina os bastidores do show que nunca estrearia com a realização dos filmes que seriam exibidos nos telões da 02 Arena. Cada um deles uma superprodução, como aquele em que MJ contracena com os grandes ídolos dos filmes noir e uma versão em 3D do clássico videoclipe Thriller.
EUA, 2016, de John Scheinfeld.
A fulgurante e revolucionária trajetória de John Coltrane (1926 - 1967), um dos maiores nomes da história do jazz, ganhou tributo com este belo documentário que destaca tanto sua genialidade musical quanto as turbulências da vida pessoal. Com uso de imagens de arquivo raras, o documentário ilumina a trajetória do saxofonista que foi um gênero em si dentro do jazz, tanto atuando ao lado de nomes como Miles Davis quando em sua carreira solo, cristalizada no referencial disco A Love Supreme (1965). Com narração do ator Denzel Washington, o documentário conta com depoimentos de, entre outros músicos, Sonny Rollins, Wynton Marsalis, Carlos Santana, Wayne Shorter e Kamasi Washington.
EUA, 2018, de Alan Ricks e Rashida Jones.
O músico, produtor, compositor e arranjador Quincy Jones consagrou-se como um dos maiores nomes da indústria musical em todos os tempos. Seu trabalho está impresso em obras referenciais de gigantes como do jazz como Dizzy Gillespie, Miles Davis e Ella Fitzgerald e ídolos populares da estatura de Frank Sinatra e Michael Jackson – com o Rei do Pop, por exemplo, Quincy ajudou a dar forma ao álbum Thriller, o mais da história. Codirigido pela atriz Rashida Jones, filha de Quincy, o filme destaca o ativismo social do produtor e combina imagens de arquivo relembrando seus grandes momentos na música com registros atuais do homenageado, hoje com 86 anos.