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A cantora e compositora paulistana, que se apresenta em Florianópolis neste sábado (25), fala em entrevista sobre seu novo trabalho, "APKÁ!", e sobre os relatos e desabafos feitos em suas novas músicas
APKÁ! não é um disco sobre a maternidade. Essa é a primeira coisa que Céu faz questão de destacar na nossa entrevista sobre o álbum, o quinto de sua carreira, lançado no último mês de setembro. "Eu estava grávida enquanto criava o disco, e a gravidez é extremamente inspiradora; mas não gosto de atrelar uma coisa exclusivamente à outra", ela diz. "Eu sou uma artista que vive uma vida de gente: vai ao supermercado, leva o filho na escola. Acho que é muito interessante falar sobre como é incrível, e também um enorme desafio, poder trazer ao mundo serzinhos zerados e tentar fazer deles pessoas legais. Mas minhas histórias passeiam por lugares comuns a todos nós."
A cantora e compositora paulistana, que chega à Santa Catarina neste final de semana, para apresentar o show do novo trabalho em Florianópolis, afirma que o maior tema de APKÁ! são os contrastes - "a era super tecnológica em que vivemos, por exemplo, e o que pode ser super humano, super de carne e osso em meio a isso", ela cita. "Em termos de som o contraste também existe: eu trouxe referências de soul, que eu curto muito; referências do punk e da música britânica; coisas mais antigas. Também acho que é um disco sobre o coletivo; sobre o que está acontecendo no mundo e no Brasil; sobre nós, seres humanos, vivendo e convivendo nesse mundo."
O título da obra, esse sim, veio diretamente de Antonino, o filho caçula de Céu. "Durante o processo de gravação, eu não tinha nenhuma palavra em particular que quisesse eleger como título para o álbum", narra a artista. "Então eu percebi que a palavra que mais fazia sentido naquele momento que eu estava vivendo - da gravidez, de cuidar do meu neném - vinha dele: essa palavra, 'APKÁ!', que ele gritava, e que estava sempre atrelada a uma sensação de alegria, de satisfação, de força. Era um grito, mesmo, uma coisa pra fora; e eu acho que o álbum também tem essa coisa, esse grito, esse desejo por algo mais humano."
Será que a tal sensação de alegria e satisfação tem a ver com o que Céu sente hoje em dia? "Eu acho que tem mais a ver com o que eu almejo sentir", ela reflete. "Às vezes eu me sinto muito raivosa, muito indignada com certas coisas. Essa palavra - ainda mais dita por um bebê, que é uma potência, uma força primitiva - expressa meu desejo de procurar por respostas, de tentar melhorar."
Céu não esconde que, entre as coisas que a deixam raivosa e indignada, está o momento político atual do Brasil, tema abordado de modo poético na faixa Forçar o Verão. "Uma nuvem se aproxima do cartão-postal/ Feito um convidado que ninguém quer receber/ Mas quando ele vem, não quer mais sair/ No sorriso debochado, estaciona ali", ela canta. "Eu acho que nós somos um cartão-postal, mas não está fazendo sol por aqui: está chovendo, está uma tempestade", ela diz sobre a composição.
O clima fica mais leve em Fênix do Amor, sobre a infância da cantora e compositora - em uma narrativa também sutil, indireta. "Eu busco mais atemporalidade na minha música", diz Céu, sobre seu modo de escrever. "Acho que, quando você expressa as coisas de uma maneira muito explícita, elas correm o risco de expirar. E as pessoas pegam minhas composições emprestadas: muita gente já me disse que Fênix do Amor parecer ter sido escrita para elas, e eu amo isso. Eu não escrevo música para mim, escrevo para nós. A música não é mais minha depois que eu a lanço no mundo. Quando as pessoas tomam uma canção para si, é quando eu entro na vida delas - e essa é justamente a magia da música."
Apenas duas das novas faixas não foram escritas por Céu: Pardo, assinada por Caetano Veloso, e Make Sure Your Head is Above, de Dinho, dos Boogarins. "Eu sou fã do Caetano desde menina, conheço bem a obra dele; e gosto dele como figura, também, gosto de ouvir o que ele tem a dizer", diz a cantora sobre o ídolo e agora colaborador. "Acho que o Caetano é uma figura crucial da nossa cultura. Pedir uma composição para ele foi um drama para mim (risos), mas ele foi um doce: prontamente disse que ia fazer, e fez uma música exatamente como eu queria - uma música que qualquer um percebe claramente que foi escrita pelo Caetano."
Por que cantar uma música, ou trechos de uma música, em inglês - ou melhor, como decidir quando cantar em um idioma ou outro? Céu diz que a escolha acontece de forma natural. "Meu processo de composição é muito orgânico e instintivo", descreve. "Quando eu pego um caderno, é só porque eu quero escrever alguma coisa - não necessariamente porque eu quero escrever uma música. Eu só quero botar no papel algo que está dentro da minha alma. E às vezes essa primeira escrita vem em inglês. O inglês é uma língua muito sonora em termos de composição, tem uma musicalidade implícita que eu acho que só encontra paralelo justamente no português do Brasil."
A cantora e compositora descreve como "quente" o show que apresenta em Florianópolis. "É muito gostoso chegar nesse ponto da carreira e poder fazer um show cheio de músicas que o público pede, gosta, canta junto", comemora. "Mas ele é muito baseado no APKÁ!: eu descobri que sou uma artista que gosta disso, de fazer o espetáculo voltado para cada álbum vigente. Estou amando fazer esse show. E eu gosto muito de tocar em Floripa, nós somos sempre muito bem recebidos aí."
Para encerrar a entrevista, pergunto qual é o desejo de Céu para 2020 - para si e para o mundo. Depois de um instante de reflexão, ela responde: "Eu desejo que as pessoas se coloquem no lugar das outras. Dizem que isso se chama 'empatia', né? Não sei exatamente o nome disso, mas eu queria que o mundo fizesse uma reflexão a respeito do que sabemos, do que não sabemos. Quero que a humanidade possa fazer um giro de 180 graus - com o amor como fio condutor."
Serviço
Céu apresenta o show 'APKÁ!'
Onde: Teatro Ademir Rosa (Centro Integrado de Cultura - CIC), em Florianópolis
Quando: Dia 25 de janeiro, sábado, às 21h (abertura às 20h)
Ingressos à venda no site Sympla