Common se inspira em Nina Simone e afirma que artistas têm "o dever de refletir o tempo em que estão vivendo"

04.12.2020 | 12h47 - Atualizada em: 04.12.2020 | 12h48
Marina Martini Lopes
Por Marina Martini Lopes
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No começo de novembro, o rapper norte-americano Common lançou o álbum "A Beautiful Revolution Pt 1"

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Em entrevista ao site NME, o rapper falou sobre seu novo trabalho e as recentes eleições norte-americanas

No começo de novembro, o rapper norte-americano Common lançou o álbum A Beautiful Revolution Pt 1, com sete faixas que combinam elementos de hip-hop, soul, afrobeat e jazz. O disco conta com um time estrelado de colaboradores, que inclui Stevie Wonder, Chuck D, Lenny Kravitz e Black Thought.

Além disso, o músico marcou presença nas eleições presidenciais norte-americanas, manifestando seu apoio ao candidato Joe Biden e incentivando as pessoas a irem votar - uma vez que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório. Em entrevista recente ao site NME, Common falou sobre tudo isso. Veja abaixo um trecho da entrevista - que você pode ler por inteiro, no original em inglês, aqui:

O que inspirou a ideia por trás de seu novo álbum, A Beautiful Revolution Pt.1?

Eu fui convidado a criar uma música para um novo programa infantil da Netflix, chamado Bookmarks. Então eu comecei a trabalhar na canção Don't Forget Who You Are, com Karriem Riggins, Robert Glasper e PJ; e uma noite eu fui pra casa e fiquei ouvindo essa faixa e pensei "cara, essa música ficou boa". Eu vi que tinha alguma coisa ali. E, ao mesmo tempo que eu escrevi aquela canção pensando na ideia de conversar com uma criança, com um bebê, muitos adultos, gente da minha equipe, ouvia a letra e dizia que estava mesmo precisando daquela mensagem. Eu senti que precisava fazer algo pelas pessoas que estava ajudando a inspirar e animar por meio daquela música. Queria que fosse um som revolucionário, mas ao mesmo tempo esperançoso, que transmitisse um sentimento bom.

Como você define uma "uma revolução bonita" (ou "uma bela revolução"; em inglês, "A Beautiful Revolution")?

Para mim, uma revolução bonita é quando as pessoas conseguem enxergar o próposito de Deus e o amor por toda a humanidade em si mesmos - e então canalizar tudo isso através de suas vidas individuais e causar mudança nos outros. É assim que nós podemos viver em um lugar onde as pessoas veem e sentem felicidade; vivendo em criatividade, união e esperança.

Na faixa Courageous, você canta sobre ter participado dos protestos Black Lives Matter deste ano, e sobre como você "encontrou" algo enquanto caminhava com as pessoas pelas ruas durante as manifestações. O que exatamente você encontrou?

Eu estou estou dizendo que nós temos que garantir que nossos corações e nossas mentes estejam no lugar certo, porque, no fim das contas, todos nós precisamos uns dos outros. Nesses protestos eu vi brancos, negros, latinos, asiáticos, todos lutando com força e com esperança pela mesma coisa. Isso é muito importante.

Stevie Wonder aparece nessa faixa, mas, a princípio, ele não foi creditado por isso. Por quê?

Porque eu faço umas coisas muito burras às vezes.

Como assim?

Quando me perguntaram como deveríamos creditar Stevie Wonder no disco, eu pensei "Nós não podemos colocar 'feat. Stevie Wonder', porque as pessoas vão pensar que ele canta no álbum, e vão ficar bravas quando perceberem que não." Mas eu devia simplesmente ter colocado "feat. Stevie Wonder." Foi uma má decisão a respeito da qual eu pensei demais.

Como aconteceu a parceria com Lenny Kravitz em A Riot In My Mind?

No último verão, eu fui a alguns shows de comédia do Dave Chappelle's Summer Camp. O Matthew, que é um fotógrafo francês que trabalha com Dave, Robert Glasper e Lenny Kravitz, estava lá. Ele ficava o tempo todo conversando com Lenny pelo Facetime, e um dia eu estava por perto e resolvi falar "ei, nós devíamos fazer uma música juntos". Lenny concordou, mas eu não fazia ideia se ele só tinha dito isso por dizer ou sei lá. Uns três ou quatro dias depois, eu escrevi A Riot In My Mind, e achei que seria incrível ter o Lenny especificamente nela. Eu mandei a faixa para ele, ele ouviu, e me retornou depois de alguns dias - e ele estava realmente empolgado. Ele chamou a música de "funk soul progressivo". Fiquei muito agradecido por tê-lo na canção, especialmente considerando que ele não costuma fazer hip-hop.

Você foi muito participativo nas eleições norte-americanas, participando de campanhas e encorajando as pessoas a votar. O que o fez querer se envolver?

Eu sentia que havia uma grande tristeza no país inteiro, então isso parecia necessário. Eu senti que Biden e Harris eram o melhor para este país, e quis apoiá-los 100%. Acho que eles serão verdadeiros líderes, que vão botar o país no lugar certo - e isso ajuda o mundo inteiro a estar em um lugar melhor. Eu também não posso ficar dizendo que me importo com as pessoas e aí não fazer nada, sabe? Ficar calado em casa seria o mesmo que votar em Trump. Como Nina Simone disse, nós, como artistas, temos o dever de refletir os tempos que estamos vivendo. Então eu senti que esse era o meu dever.

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