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Entidade que reúne 190 casas noturnas está transmitindo shows ao vivo de DJs pela internet
Nada de galpões antigos ou casas nas regiões gentrificadas da cidade. A festa em Berlim, na Alemanha, a partir de agora fica por conta de cada um. Ou mais ou menos isso.
A música continua sendo igual para todos, compartilhada por uma página na internet, a conta é paga por quem achar necessário, mas a pista de dança e o espaço para as pessoas curtirem o som se limitam às quatro paredes de seus respectivos apartamentos.
É dessa forma que a Berlin Club Comission, entidade que reúne cerca de 190 clubes, e a plataforma Reclaim Club Culture resolveram tentar manter viva a cultura noturna da capital alemã, afetada pelas restrições de circulação de pessoas adotada pelo governo do país por causa da disseminação do coronavírus.
A iniciativa batizada de United We Stream ("juntos transmitimos", em português) gerou um site que publica diariamente, das 19h até a meia noite (ou 15h às 20h, no horário de Brasília), transmissões ao vivo de DJs - cada um se apresentam cada dia em uma casa diferente da cidade, mas também há espaço para performances, debates e exibições de filmes.
Em troca, quem entra no site pode fazer voluntariamente uma doação para um fundo que pretende ajudar nove mil trabalhadores de estabelecimentos vinculados à noite de Berlim e milhares de artistas que viram suas receitas minguarem na quarentena.
Empresário da vida noturna da capital e representante da Berlin Club Comission, Lutz Leichsenring disse que a ideia partiu de todo um time e que, até o momento, a proposta tem tido bastante êxito.
— Temos bons números. Nas primeiras 24 horas, contamos com 1 milhão de acessos. E já arrecadamos 100 mil euros (cerca de R$ 535 mil) — afirmou.
— Não temos acompanhado de onde vêm todas essas exibições, pois estamos também presentes no Facebook e Youtube. Apesar de não conseguir definir se o público se restringe à Alemanha ou não, a sensação ao ler os comentários é que temos acessos de outros países também — continuou Leichsenring.
As transmissões tiveram início na quarta-feira (18) e devem se estender pelo menos até o dia 20 de abril, após a Páscoa, quando as restrições de circulação de pessoas no país devem ser encerradas.
— Vamos tocar pelo menos até o dia 20, quando termina a quarentena. Mas isso agora faz parte da cultura das casas noturnas. Aproveitamos essa crise para criar um canal digital, então não posso dizer que essa experiência vai acabar — disse Leichsenring.
As casas noturnas de Berlim já haviam suspendido suas atividades na sexta-feira da semana passada, dia 13 de março, por causa da pandemia do coronavírus. Nesta semana, os governos federal e estaduais da Alemanha estabeleceram uma série de regras sobre restrições de estabelecimentos e quais podem se manter abertos ou não durante o período de isolamento.
Essas limitações determinaram a paralisação das atividades de todos bares e baladas do país. A interrupção desses locais gerou temor em trabalhadores do setor, que viram no United We Stream uma possibilidade de evitar um blackout na cena noturna da cidade.
Mas o dinheiro arrecadado não ajudará apenas o entretenimento. Do valor direcionado ao fundo, 8% deve ser destinado a uma fundação que ajuda imigrantes e refugiados que foram resgatados no mar Mediterrâneo.
A distribuição da verba também deverá ter critérios, mesmo os 92% encaminhados para artistas e trabalhadores. Para isso, a Club Commission Berlin e a Reclaim Club Culture desenvolveram um catálogo de requisitos para o resgate do fundo e formaram um júri independente, formado por seis pessoas relacionadas à vida noturna de Berlim.
No domingo (22), minutos antes da transmissão do dia começar com apresentação ao vivo da casa noturna Griessmuehle, a arrecadação chegava a pouco mais de 250 mil euros - cerca de R$ 1,25 milhão ou 25% dos 1 milhão de euros projetado para ser arrecadado até o fim da quarentena. Até lá, 30 dias de música podem animar novos apoiadores.