Entenda a polêmica envolvendo pedido de recolhimento de HQ e liminares sobre apreensão de obras

09.09.2019 | 15h00 - Atualizada em: 09.09.2019 | 15h10
Por Anna Rios
Desenho feito pelo britânico Jim Cheung, ilustrador da HQ

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Prefeito do Rio considerou livro com heróis se beijando impróprio e determinou a retirada do título do evento literário; presidente do STF derrubou decisão que liberava apreensão do material

Por GaúchaZH

O Supremo Tribunal Federal derrubou neste domingo (8) a decisão que liberava apreensão de livros na Bienal do Rio de Janeiro. O evento, que chega ao fim neste final de semana, possui mesas redondas, painéis temáticos e comercialização de livros. A programação ocorre no Riocentro.

A polêmica envolvendo o evento começou na segunda-feira (2), pelas redes sociais, e tem como protagonista a HQ Vingadores - A Cruzada das Crianças. Publicada originalmente em 2010, a obra é o 66º volume da Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, lançada em 2016 no Brasil pela Editora Salvat em parceria com a Panini Comics. A ideia é republicar gibis em formato de luxo, com capa dura. 

Com nove edições, a saga mostra dezenas de super-heróis da Marvel, incluindo duas versões jovens dos Vingadores, Wiccano e Hulking, que são namorados. Em um dos trechos da obra, eles aparecem se beijando, em edição escrita pelo norte-americano Allan Heinberg e ilustrada pelo britânico Jim Cheung.

A obra, no entanto, foi acusada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de possuir "conteúdo impróprio para menores". Ele determinou o recolhimento de exemplares da HQ na Bienal do Livro, o que levou a uma fiscalização da prefeitura no evento. O fato também fez com que a organização da feira literária pedisse à Justiça um mandado de segurança preventiva para garantir o direito dos expositores de “comercializar obras literárias sobre as mais diversas temáticas”.

Sucesso de vendas

Na manhã desta sexta-feira (6), em menos de uma hora, todos os exemplares da HQ Vingadores — A Cruzada das Crianças  disponíveis nos estandes da Bienal do Livro foram vendidos. A obra estava indisponível também no site da Salvat.

Embora essa seja a posição oficial, funcionários ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo disseram que foram orientados a recolher títulos com temática LGBT+ ou que pudessem gerar polêmicas por causa da fiscalização da prefeitura.

A organização da Bienal afirmou que não irá recolher nem embalar nenhum livro, pois o conteúdo não é impróprio nem pornográfico. Mas ressalta que qualquer pessoa que se sentir ofendida ou não gostar de algum título adquirido tem direito de trocá-lo.

Foto: Divulgação

Ação de Felipe Neto

A tentativa de censura de Marcelo Crivella irritou o youtuber Felipe Neto, um dos mais populares do Brasil. Na sexta-feira, Neto anunciou que compraria milhares de exemplares com temática LBGT+ dispostas na Bienal do Livro e, depois, os doaria.

A distribuição ocorreu na tarde de sábado e durou duras horas. Quem queria participar da ação chegou a fazer fila para conseguir um dos 14 mil exemplares. Alguns seguravam bandeiras com as cores do arco-íris.

As obras vinham lacradas com uma embalagem com a seguinte mensagem: "Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas. Felipe Neto agradece a sua luta pelo amor, pela inclusão e pela diversidade".

Foto: Divulgação

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