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Em entrevista exclusiva à Itapema, Arlo Parks, revelação da música britânica, fala sobre seus gostos, seu primeiro álbum completo, e um bisavô brasileiro
Arlo Parks parece ter bem mais que os seus recém-completados vinte anos de idade. Em uma conversa via Zoom, ela aparece relaxada em seu próprio quarto, mexendo distraída nos cachos dos cabelos enquanto conversa calmamente em seu sotaque britânico característico. "Eu ouço isso muito frequentemente", ela responde, rindo, quando comento minha impressão com ela.
Um dos aspectos da personalidade de Parks que me faz pensar em uma pessoa mais velha são seus gostos pessoais: durante a nossa entrevista, perguntei o que ela gostava de ler e de assistir, para descobrir que outros tipo de arte - além da própria música - a inspiram a compor. "Gosto muito de ler", ela responde imediatamente. "Gosto de Raymond Carver [escritor e poeta norte-americano morto em 1988]. Adoro poesia; acho que gosto de muitos dos poetas norte-americanos dos anos 1970. No cinema, meus favoritos são David Lynch e Hitchcock." Não parece a lista de gostos pessoais de uma jovem da Geração Z, parece?
"Acho que é porque gosto muito de coisas que tem uma estética muito específica, um conceito próprio", ela explica, rindo. E completa, como que para se redimir: "Mas eu também gosto muito de cozinhar e de passear com meus amigos."
Talvez a ideia de desenvolver arte com conceito seja o que mais a entusiasma a respeito da produção de seu primeiro álbum, que ela ainda está escrevendo. Por enquanto, Parks tem dois EPs lançados; Super Sad Generation e Sophie. "Acho que um disco completo é quase uma cápsula do tempo: captura o momento que o artista está vivendo na vida, e o artista que ele é naquele instante específico", explica. "É uma oportunidade de contar uma história mais longa, também; diferente da que você pode contar quando lança um EP ou um single."
Música é algo que faz parte da vida da artista desde que ela era criança. "Meu pai sempre amou jazz", ela conta. "Na minha casa sempre estava rolando Miles Davis, Chet Baker, John Coltrane. E minha mãe era obcecada pelo Prince. Eu comecei a descobrir meus próprios ídolos musicais na adolescência. Uma das primeiras bandas pelas quais me interessei de verdade foi Arctic Monkeys."
Não muito tempo depois, aos 14 ou 15 anos, Parks já começou a compor. "Eu sempre gostei de escrever, de modo geral", ela diz. "Fui uma criança muito sensível, muito emotiva. Acho que escrever era uma maneira de processar minhas emoções." Arlo Parks, aliás, não é o nome de batismo dela: nascida Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho, a cantora e compositora decidiu se tornar Arlo Parks "porque sempre quis ter um nome artístico."
Ela define como "super surreal" a consciência de que, hoje, as músicas que ela escreveu em uma tentativa de entender e desabafar sobre os próprios sentimentos são ouvidas por pessoas do mundo inteiro. "Eu escrevi essas coisas deitada na cama onde durmo desde criança, e as cantei pela primeira vez em festas na casa dos meus amigos", compara, parecendo sinceramente admirada. Ela também comenta que, como uma jovem mulher negra e assumidamente bissexual, acha importante que os jovens possam ter ídolos e referências com os quais se identifiquem em um nível mais pessoal: "É muito inspirador ter referências que de alguma forma se pareçam com você", declara.
Arlo Parks tem uma relação inesperadamente próxima com o Brasil: "Um dos meus bisavôs nasceu no Brasil", ela conta, quando pergunto se ela tem vontade de vir ao país. "Falava português e tudo mais. Mas o que me deixa mais curiosa a respeito do Brasil é a música: meu melhor amigo é absolutamente obcecado pela música brasileira; bossa nova e tudo o que ela influenciou. É um lugar que eu sempre quis visitar. Pretendo ir assim que conseguir."
O single mais recente de Parks, lançado em agosto, é Hurt, que, como ela própria explica, fala sobre "a possibilidade de cura da dor e a natureza temporária do sofrimento. É para elevar e confortar aqueles que estão passando por tempos difíceis." Não poderia ser mais adequado: a artista é embaixadora da organização CALM (Campaign Against Living Miserably), que promove a importância do cuidado com a saúde mental. "Tenho e já tive muitos amigos que tiveram problemas com isso, então gosto de ajudar de alguma forma, tentar fazer a diferença", ela afirma. "Acho que hoje em dia já existe uma consciência maior a respeito desse assunto, o que é bom. As pessoas se sentem mais à vontade para falar sobre isso."
Arlo Parks diz que, para se manter centrada e tranquila durante o período de quarentena, aprendeu a ser "muito mais paciente" consigo mesma. "Tenho ouvido os discos favoritos da minha infância, e assistido muitos filmes do Studio Ghibli, que eu adoro. Mas trabalhar no meu disco tem me mantido muito concentrada. Ele me deu um senso de propósito."