“Ao Redor do Precipício”: Frejat fala sobre seu álbum de inéditas que acaba de ganhar um webdocumentário

19.08.2020 | 11h00 - Atualizada em: 20.08.2020 | 17h24
Por Janaína Laurindo
Repórter

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Mundo Itapema

Registro dos bastidores da gravação de estúdio já está disponível no Youtube

Já está disponível no YouTube o webdocumentário que mostra os bastidores da gravação do novo álbum de Frejat, “Ao Redor do Precipício”. O mais recente trabalho do artista, lançado em junho, traz canções inéditas e parceria com os experientes músicos Humberto Barros, Maurício Negão e Kassin, que também participam da produção do disco.

— O álbum foi feito literalmente a oito mãos, todas as faixas foram trabalhadas juntas. Fazer esse trabalho construiu uma relação de amizade legal entre a gente — conta Frejat.

O ex-guitarrista e vocalista do Barão Vermelho trabalhou a vida inteira fazendo álbuns, mas estava desde 2008 sem lançar um trabalho de inéditas. Em entrevista para Itapema, o músico fala sobre como foi a produção deste novo trabalho, composições inéditas com Cazuza e sobre a relação com o Barão Vermelho, que completa 40 anos, em 2021. Confira:

Durante alguns anos você optou por lançar somente singles, em que momento resolveu que deveria registrar este trabalho em álbum?

Como sou um artista independente, gravar exige um certo investimento, físico e mental. Nesse processo houve também uma dificuldade de entender até que ponto o álbum seria consumido pelo público, já que não temos mais onde vender um CD. Mas eu percebi que no meu caso, e de outros artistas que são compositores, o álbum demarca muito as sonoridades e como você está pensando que suas músicas devem ser encaminhas naquele momento. Se esse disco fosse feito daqui uns três anos, acho que ele não seria a mesma coisa. E acho que cada álbum representa um momento da sua vida e da sua história. Os singles podem demarcar determinados encontros, eles têm agilidade e você não precisa ficar justificando algo maior, aquilo ali é o que você quer dizer. Não descarto fazer novamente porque fiz durante muito tempo, mas achei que agora merecia um álbum.

Divulgação

No webdocumentário ~ que está no final deste post ~ é possível ver que o estúdio é um momento divertido para o músico, mas também é cansativo. Em algum momento você já pensou em parar de fazer música e de criar coisas novas para o público?

A minha paixão pela música é enorme, eu não me imagino parar de fazer isso enquanto eu estiver vivo. É logico que em algum momento eu possa ficar idoso demais para ficar viajando e fazendo show na estrada, mas fazer música e continuar gravando e tocando eu vou até onde eu pude ir. E compor também, porque é um exercício muito forte da tua personalidade, porque quando compomos colocamos muito do que somos ali, a nossa maneira de pensar e encaminhar as coisas.

O como você lida com a pressão de estar sempre se reinventando?

Talvez essa não seja a palavra tão precisa, porque ela dá a impressão que você tá inventando de novo e o que precisamos é nos renovar. Nesse sentido esse trabalho foi uma renovação para mim, pude trabalhar com pessoas que nunca tinha trabalhado antes. É logico que mantive algumas pessoas porque a renovação não precisa ser completa, até para que o público e você não estranhe. É preciso ter uma medida dessa renovação e nesse novo trabalho acho que tenho isso. Não que tenha sido premeditado, pois não é assim que acontece comigo em termos de criação, mas acho que fiz as escolhas certas, talvez por maturidade ou sorte.

E como foi selecionar as treze canções que compõem “Ao Redor do Precipício”?

Eu tinha várias dessas músicas há bastante tempo, selecionei algumas que eu achava que deveria entrar nesse repertorio e então ele foi escolhido por nós quatro. Tem música desde 2003, mas a maior parte é de 2015. “E você diz” é uma parceria minha com Macalé e Luiz Melodia, é uma música bem importante no álbum, que fala sobre um assunto presente hoje e que não era em 2015, que são as fake news. Então esse álbum tem vários períodos de composição e todos os meus discos são assim porque acredito que isso enriquece o trabalho.

Então você está sempre criando? Como é o processo de organização desse material que você vai produzindo?

Se for no meu estúdio, que é onde eu costumo gravar normalmente, eu já deixo um microfone gravando e quando termino eu já deixo salvo aquele registro. Às vezes, quando fico empolgado pela música, faço uma coisa mais simples, programo uma bateria, gravo um baixo, um violão. Às vezes, é só violão e voz. E a princípio é isso. As três vinhetas que estão no álbum, por exemplo, gravei no celular. Fico brincando e, de repente, sai uma ideia. Eu nunca usava, mas dessa vez eu pensei: vou fazer vinhetas com elas. E foi bacana! Foi um exercício musical, por não ter a voz como elemento principal, apesar que “Ao Redor do Precipício”? tem uma harmonização vocal grande.

E você tem muitas composições guardadas?

Eu normalmente não guardo por muito tempo, mas acabo tendo muita coisa porque algumas eu acho que não é a hora e acabam ficando para trás.

Dessas, alguma com o Cazuza?

Tenho sim. Que eu me lembre pelo menos uma ou duas. Essas eu nem sei dizer o motivo de não ter trabalhado ainda, mas em algum momento eu vou colocar a mão na massa.

“Pergunta Urgente” é a única canção do novo álbum que não é de sua autoria, mas traz um questionamento que é muito atual: ´A vida segue se eu desviar?´ E aí, segue?

Essa música fala muito dos meus questionamentos. Eu também quero saber se a vida segue se você desvia. Também sinto essa necessidade de fazer tudo que eu gostaria de fazer. Nosso dia na cidade é muito opressor, no sentido que a gente se sente obrigado a fazer tanta coisa que acabamos não fazendo aquilo que gostaríamos de fazer. Por exemplo, neste período de isolamento, o que fiz foi aproveitar para organizar um pouco os meus arquivos, não no sentido de olhar tudo, mas de verificar se estava tudo bem guardado e conservado. Tenho me dedicado a aprender piano, porque não tenho tanto tempo para estudar, não tenho agora e tinha menos ainda antes, então estou aproveitando para isso. Também adotei uma cadelinha logo no começo da pandemia, e isso também me ocupou bastante.

Falando em pandemia e no nosso momento político, qual o papel da música nesse enfrentamento?

A música já é política de qualquer forma, pois se você está manifestando uma forma de pensar, ela tem o lado político completo e permanente. Por outro lado, dentro da política partidária eu não vejo tanto, pelo menos para mim, não faz sentido fazer música nesse quadro partidário. Não é muito minha praia. Acho que tem gente que gosta e se inspira com isso, mas eu não tenho esse barato. Vejo a política como um exercício de cidadania mesmo e não gosto de misturar muito com a minha personalidade artística. Mas em alguns momentos é necessário, como a questão dos direitos autorais, que você tem que ir ao Congresso e a entidades para poder discutir esses assuntos.

Em 2021, o Barão Vermelho completa 40 anos de formação. Existe algum projeto de retorno ou turnê sendo planejada com a sua participação?

Nesse momento eu não posso responder pela banda, mas a minha ideia enquanto ainda estava com eles era que fosse comemorado os 40 anos com uma turnê, mas agora isso, pelo menos para mim, é inviável. A partir do momento que eu sai da banda e colocaram alguém no meu lugar, é uma decisão deles e eu não tenho mais nada a ver com isso. A minha ideia é que deveríamos esperar para voltar na turnê de 40 anos, mas fui voto vencido. Eles seguiram, então agora a decisão está com eles.

Então a sua saída provocou um ruído na sua amizade com o Barão Vermelho?

Não, pelo contrário, somos amigos. Isso é uma coisa que o Brasil precisava aprender, temos divergências de pensamentos, mas não precisamos nos odiar. Acho importante saber que você tem um amigo que você vai encontrar para abraçar, mas que você tem coisas que não concorda. E tudo bem, você faz de um jeito e eu faço do meu. Então é isso, nosso relacionamento é muito carinhoso e acho que isso é uma característica da história da banda.

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