Filme iraniano que critica pena de morte conquista o Urso de Ouro no Festival de Berlim

02.03.2020 | 20h45 - Atualizada em: 02.03.2020 | 20h44
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A trama é dividida em quatro partes, todas versando sobre questões relativas ao significado de pessoas matarem outras

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"There Is No Evil", de Mohammad Rasoulof, recebeu prêmio máximo do evento

O Festival de Berlim terminou com ares fortemente políticos. O longa There Is No Evil, do iraniano Mohammad Rasoulof, ganhou o Urso de Ouro. A trama é dividida em quatro partes, todas versando sobre questões relativas ao significado de pessoas matarem outras – é uma grande crítica à pena de morte no Irã.

O cineasta não foi a Berlim por ter tido seu passaporte recolhido pelo governo do Irã - o diretor já teve diversos problemas com autoridades do país por conta de sua visão crítica a questões políticas iranianas. Mesmo não estando presente, o cineasta foi aplaudido pela plateia na premiação. "Espero que esse Urso possa abraçar meu amigo e dizer 'Mohammad, você não está sozinho'", disse Kaveh Farnam, produdor de There Is No Evil, ao receber o troféu.

Never Rarely Sometimes Always, da americana Eliza Hittman, ganhou o grande prêmio do júri. O filme, que mostra uma jovem que viaja com a amiga para fazer um aborto, foi um dos mais elogiados pela crítica. A cineasta agradeceu aos médicos que trabalham para realizar a prática abortiva em lugares nos Estados Unidos onde o aborto é permitido. "Quero agradecer a essas pessoas pelo seu trabalho incrível que fazem pelo nosso país", disse a cineasta.

O sul-coreano Hong Sang-soo ganhou um merecido prêmio de melhor direção, por The Woman Who Ran. O filme mostra conversas cotidianas entre amigas sobre assuntos diversos, mas sobretudo a respeito de uma vida a dois. A protagonista é uma mulher que está casada há cinco anos, mas que teve pouquíssimos momentos longe do cônjuge. Em seu primeiro dia com a chance de ficar só, ela tem a oportunidade de avaliar melhor sua vida.

O italiano Elio Germano ganhou um inquestionável prêmio de melhor ator, por Volevo Nascondermi, dirigido pelo compatriota Giorgio Diritti, em que interpreta o artista naïf Antonio Ligabue, que tinha problemas físicos e mentais, mas que sonhava em levar uma vida burguesa normal. E a melhor atriz foi a alemã Paula Beer, também por uma notável atuação, em Undine, do alemão Cristian Petzold, sobre uma história de amor intenso inspirada na criatura mitológica Ondina.

Os irmãos italianos Fabio e Damiano D'Innocenzo ganharam o prêmio de melhor roteiro, por Favolacce, filme com ares de fábula cotidiana sobre a vida de famílias moradoras do subúrbio de Roma. O longa também é dirigido pela dupla. A comédia francesa Effacer l'Historique, de Benoît Delépine e Gustave Kervern, ganhou um prêmio especial da 70ª edição da Berlinale - o longa aborda a dependência do mundo contemporâneo das redes sociais.

O prêmio de contribuição artística foi para o alemão Jürgen Jürges, diretor de fotografia do polêmico DAU. Natasha, dos russos Ilya Khrzhanovski e Jekaterina Oertel. O longa é o primeiro do ambicioso projeto DAU, que recriou em estúdio por dois anos ambientes da União Soviética do auge do stalinismo, com a equipe vivendo ali como se estivesse naquele período. Causou polêmica por mostrar sexo explícito e cenas altamente violentas. Segundo o presidente do júri, Jeremy Irons, o longa obteve reações extremas dos jurados. O diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho (de Bacurau) foi um dos integrantes do júri.

O Brasil também esteve representado em Los Conductos, do colombiano Camilo Restrepo com produção do brasileiro Gustavo Beck, vencedor do prêmio de melhor primeiro longa. Na última sexta (28), o Brasil já havia vencido o prêmio principal da mostra Generation 14 plus, dedicada a temáticas jovens, com Meu Nome É Bagdá, de Caru Alves de Souza.

Veja todos os premiados na 70ª edição do Festival de cinema de Berlim:

- Urso de Ouro de melhor filme: There Is No Evil, do iraniano Mohammad Rasoulof
- Grande Prêmio do Júri: Never Rarely Sometimes Always, da americana Eliza Hittman
- Urso de Prata de melhor diretor: Hang Sang soo, por The Woman Who Run (Coreia do Sul)
- Urso de Prata de melhor atriz: a alemã Paula Beer, por Undine
- Urso de Prata de melhor ator: o italiano Elio Germano, por Hidden Away (Volevo Nascondermi)
- Urso de Prata de melhor contribuição artística: Jürgen Jürges, pela fotografia de DAU. Natasha, de Ilya Khrzhanovsky e Jekaterina Oertel
- Urso de Prata de melhor roteiro: Favolacce (Bad Tales), de Fabio e Damiano D'Innocenzo (Itália)
- Urso de Prata pelos 70 anos do festival: Effacer l'Historique, de Benoît Delépine e Gustave Kerven (França)
- Melhor documentário: Irradiés, de Rithy Panh (França)

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