Lauryn Hill concede rara entrevista à Rolling Stone norte-americana

19.01.2021 | 17h35
Por Marina Martini Lopes
Editora
Nos últimos anos, Lauryn Hill tem feito shows e lançado músicas avulsas, além de ocasionalmente colaborar em trabalhos de outros artistas

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A artista discutiu o icônico "The Miseducation of Lauryn Hill", que ficou em décimo lugar na lista dos melhores álbuns de todos os tempos organizada pela publicação

No final dos anos 1990, Lauryn Hill se tornou conhecida como atriz e membro do grupo de hip-hop Fugees - o álbum The Score, lançado pela banda em 1996, é até hoje um dos mais vendidos da década. Em 1998, com apenas 22 anos de idade, Hill decidiu dar um grande passo e lançar seu disco solo, o agora icônico The Miseducation of Lauryn Hill: o registro venceu nada menos que cinco Grammys e rendeu uma enorme tour.

Mas, com a chegada dos anos 2000, a cantora se afastou da indústria musical e da fama: ela jamais lançou outro trabalho de estúdio. Seu último álbum completo foi um MTV Unplugged que estreou em 2002. É claro que o afastamente contribuiu para aumentar a mística em torno de The Miseducation of Lauryn Hill, que, ainda hoje, continua sendo considerado um dos melhores discos já feitos: na lista atualizada dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, ele ficou em décimo lugar.

Divulgação

Nos últimos anos, Lauryn Hill tem feito shows e lançado músicas avulsas, além de ocasionalmente colaborar em trabalhos de outros artistas - mas ela muito raramente fala com a mídia. No último mês, porém, a cantora topou participar do podcast Rolling Stone's 500 Greatest Albums, justamente sobre os discos que compõem a clássica lista da revista norte-americana. Na entrevista, ela falou bastante sobre o processo de concepção e gravação de The Miseducation of Lauryn Hill, e o período conturbado que se seguiu.

"Quando decidi que queria tentar um projeto solo, eu encontrei resistência e desencorajamento inacreditáveis em lugares onde achava que encontraria apoio, então acho que isso teve um fator motivador", Hill relatou. "Mas era menos sobre me provar e mais sobre criar uma coisa que eu queria ver e ouvir no mundo. Eu peguei ideias, noções e conceitos que eu queria criar, e segui nessa direção. Inicialmente eu queria colaborar com outros produtores e artistas, mas descobri que era difícil explicar o que eu queria para que outra pessoa pudesse fazer. Ele teve que ser feito de um jeito muito customizado."

Enquanto criava The Miseducation, a artista estava grávida - e diz que a gravidez foi um dos períodos mais inspirados de sua vida. "Eu fiquei sozinha durante a maior parte da minha gravidez, o que resultou em uma paz que talvez tenha contribuído para o sentimento de estar mais criativa", ela explicou à Rolling Stone. "A tentativa de criar mais estabilidade e segurança para mim mesma e para meu filho me fez desafiar o que pareciam ser limitações. Eu tinha alguém mais por quem lutar."

"Eu sempre fui muito crítica a respeito de mim mesma, artisticamente, então é claro que há coisas que eu gostaria de voltar e fazer diferente", disse a cantora e compositora, quando perguntada a respeito de sua impressão sobre o álbum hoje. "Mas acho que o amor que há no disco, a paixão, a intenção, são inegáveis. Eu também acho que ele se destaca entre os clichês que eram considerados aceitáveis naquela época: eu desafiei as normas e introduzi novos padrões. Eu acho que ainda faço isso: questiono as convenções, quando as convenções são questionáveis. Eu queria apresentar soluções e opções para pessoas que não as tinham, expor a beleza onde antes a opressão reinava, e demonstrar quão bem diferentes paradigmas culturais podem trabalhar juntos."

"Havia coisas de que eu gostava a respeito de ser famosa, mas havia coisas de que eu definitivamente não gostava", Hill reflete, a respeito do sucesso na indústria musical. "A ideia de que o artista é uma propriedade pública... Eu sempre tive um problema com isso. Eu concordo em compartilhar minha arte, mas não concordo necessariamente em compartilhar eu mesma. Às vezes as pessoas sentem como se fossem suas proprietárias, ou pelo menos proprietárias de um pedaço seu, e isso pode ser incrivelmente perigoso."

"Uma vez eu vi alguém ser criticado por falar publicamente sobre um episódio de ansiedade que aconteceu antes de essa pessoa subir no palco, como se ansiedade fosse uma condição que só pode acontecer aos não-famosos", ela prossegue. "Isso é absurdo. É como sugerir que alguém que tem um disco gravado não pode ficar resfriado. Alguém apaixonado por arte também sente medo e ansiedade: ele só faz o seu melhor para trabalhar ou transcender isso, de forma que a arte em si possa se manifestar. Alguns dias são melhores que outros. Para algumas pessoas, as coisas vão ficando mais fáceis. Para outras, não. A injustiça disso tudo era excessiva para mim. Em determinado momento eu não gostava mais da forma como estava sendo tratada."

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