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Na capa do volume, o subtítulo traz uma definição pretensiosa, "O definitivo e mais completo guia sobre a banda"
O Iron Maiden é mais do que uma banda de rock. É um rito de passagem na adolescência. Em algum momento da vida, entre o fundamental e o ensino médio, o grupo inglês vai ser a trilha sonora da pessoa. É fácil abordar um moleque na rua de cabelo longo, camiseta preta, calça jeans e tênis, e perguntar quais são suas preferidas do Iron Maiden. Ele vai listar várias.
Essa devoção semelhante àquela dos torcedores de times de futebol cria uma cumplicidade entre a banda e fãs, o que proporciona produtos como esse livrão simpático, 2 Minutes to Midnight: Atlas Ilustrado do Iron Maiden. Na capa do volume, o subtítulo traz uma definição pretensiosa, "O definitivo e mais completo guia sobre a banda".
Quem percorrer as 256 páginas editadas por Martin Popoff dificilmente terá alguma dúvida sobre a trajetória do grupo, provavelmente o mais famoso integrante da assim chamada Nova Onda do Heavy Metal Britânico, que estourou mundo afora a partir do fim dos anos 1970 e início dos anos 198o.
No livro de Popoff, texto e imagem têm pesos equilibrados. As informações, expostas ano a ano, são fartas, em tópicos curtos, e esses verbetes estão espalhados em páginas grandes, inundadas de fotos. Tudo fica com cara de um gigantesco e caprichado fanzine. 2 Minutes to Midnight é feito por fanáticos e destinado a fanáticos.
A linha do tempo contemplada já traz a descontração que marca todo o volume. A primeira data marcada não é a formação da banda, em dezembro de 1975, ou mesmo o nascimento de seu fundador, o baixista Steve Harris, em março de 1956. O primeiro verbete remete a 2.500 AC! Inscrições nas paredes das pirâmides egípcias desse período falam dos deuses Hórus e Osíris, que serviram de inspiração para que o vocalista Bruce Dickinson escrevesse a letra de Powerslave, canção de 1984.
Descer a esse nível de detalhe demonstra como a obra espelha a intensidade do culto dos fãs a tudo que cerca o Iron Maiden. O grupo já foi tema de várias e boas biografias, mas esse formato de relato visual agrega mais itens fundamentais para entender a carreira do grupo, porque poucos nomes do rock tiveram tanta preocupação com imagem.
O logo do grupo, imutável desde 1979, foi criado por Harris com inspiração na fonte usada no pôster do filme O Homem que Caiu na Terra (1976), com David Bowie.
No primeiro álbum, em 1980, a capa já trazia a imagem do "monstro-caveira" Eddie The Head, que se tornou o mascote oficial do grupo. Criado pelo ilustrador inglês Derek Riggs, ele passou a estampar todas as capas de álbuns e singles, além de cartazes de turnês. O livro contempla essa constante mutação visual de Eddie, com dezenas de capas.
O mascote passou a invadir os palcos nas turnês. No início, era um bonecão meio tosco, mas a evolução tecnológica foi tornando as inserções de Eddie nos shows mais atraentes. E os cenários também ficaram mais impactantes, puxados pela temática das letras de Dickinson, um historiador, que engloba desde o Egito antigo e a colonização da América até as Grandes Guerras e viagens espaciais.
Além das mudanças visuais, o livro trata das alterações da formação da banda. Guitarristas entraram, saíram e até voltaram ao grupo, mas para os fãs o destaque é a troca de vocalistas. Nos dois primeiros discos, até 1981, quem cantava era Paul Di'Anno. No terceiro, o consagrador The Number of the Beast (1982), Bruce Dickinson assumiu os vocais.
Quando ele deixou o Maiden para carreira solo, o décimo álbum da banda, The X Factor, de 1995, trouxe o cantor Blaze Bayley, que teve vida dura na função. Criticado demais pelos fãs, Bayley gravou apenas dois discos. Em 2000, Dickinson voltou ao grupo, para o álbum Brave New World.
A publicação do livro no Brasil é muito pertinente, porque o Iron Maiden tem uma relação fortíssima com o público do país desde sua primeira vinda, no pioneiro Rock in Rio de 1985. De lá para cá, os brasileiros já assistiram a 40 shows do grupo, os últimos no ano passado, quando o Iron Maiden retornou ao festival no Rio de Janeiro e passeou por várias cidades, incluindo Porto Alegre. Leitores não devem faltar para 2 Minutes to Midnight.
*por GaúchaZH