Michael Kiske, do Helloween: "Não continuaríamos fazendo shows se não estivéssemos nos divertindo"

13.09.2019 | 13h10 - Atualizada em: 13.09.2019 | 13h07
Marina Martini Lopes
Por Marina Martini Lopes
Editora
A banda alemã Helloween, com Michael Kiske ao centro

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Let It Rock

O vocalista da banda, que no dia 28 se apresenta em SC, conversou com a Itapema sobre a turnê que reuniu membros de diversas formações do grupo

A maioria das grandes bandas de rock já passou por diversas mudanças de formação: integrantes saem para trabalhar em outros projetos, brigam com os colegas, são até mesmo demitidos; outros entram para assumir seus postos - mas o legado da banda é forte o suficiente para que o nome, a identidade e a base de fãs se mantenham inalterados ao longo dos anos. O Helloween, um dos mais influentes grupos de power metal da Alemanha, não é exceção. Mas talvez seja o primeiro a ter chamado de volta para o palco os integrantes ainda vivos de suas formações mais clássicas; e isso sem mandar de volta para casa os membros que se juntaram à banda em anos mais recentes.

Desde 2017, com a Pumpkins United World Tour, o Helloween é um septeto - formado por Michael Weikath (guitarra) e Markus Grosskopf (baixo), que estão no grupo desde a formação, em 1984; Kai Hansen (guitarra), que foi membro fundador, saiu em 1989, e retornou em 2016; Michael Kiske (voz), que esteve com a banda entre 1987 e 1993 e voltou em 2016; Andi Deris (voz), integrante desde 1993; Sascha Gerstner (guitarra), que entrou em 2002; e Dani Löble (bateria), membro desde 2004. Nos shows, os músicos também costumam homenagear Ingo Schwichtenberg, baterista original do Helloween, que morreu em 1993: sua imagem aparece em telões nos solos de bateria, ao lado das performances de Löble.

É essa a formação que chega à Santa Catarina no dia 28 de setembro, para um show na Arena Petry, em São José. Originalmente, quem estava escalado para a turnê ao lado dos também alemães do Scorpions era a banda Megadeth - mas, com o anúncio do início do tratamento de um câncer na garganta pelo vocalista Dave Mustaine, o Helloween foi convidado para a viagem, e prontamente aceitou. Em entrevista exclusiva à Itapema, o vocalista Michael Kiske se mostrou bastante empolgado ao falar sobre o atual momento da banda e a expectativa para a turnê na América do Sul - e também contou um pouco sobre o álbum de inéditas que deve sair no ano que vem. Confira.

A banda alemã HelloweenFoto: Franz Schepers/Divulgação

Itapema: O Helloween está voltando ao Brasil, e também ao Rock In Rio [a banda veio ao país pela primeira vez em 1996, e se apresentou no festival em 2013, ainda sem Michael Kiske]. Como vocês estão se sentindo a respeito disso?
Kiske: O engraçado é que nós nem estávamos planejando fazer shows ao vivo agora, porque queríamos nos concentrar em nosso próximo álbum. Mas, quando Dave Mustaine adoeceu, nós fomos contatados para saber se poderíamos entrar em turnê com o Scorpions, e simplesmente não podíamos recusar. Nós nunca tocamos com o Scorpions - pelo menos, eu nunca toquei com o Scorpions, apesar de já ter encontrado os integrantes em algumas ocasiões. Então, para mim, é uma oportunidade bem empolgante.

Itapema: O que você pensa sobre o Brasil e sobre seus fãs brasileiros?
Kiske: A América do Sul como um todo é sempre incrível. Vocês são muito... Vivos, muito animados. A energia é incrível; e eu não quero dizer apenas nos shows - quando você fala com as pessoas, quando interage com elas, você percebe que é diferente. E eu não sou desses artistas que diz esse tipo de coisa para se promover! [risos] Estou sendo sincero. O Rock In Rio é algo grande, é icônico. Muitas bandas já gravaram CDs e DVDs ao vivo no Rock In Rio. Eu toquei no evento em 2015, como convidado especial da [banda brasileira] Noturnall.

O Rio ficou especialmente gravado na minha cabeça porque eu tive tempo de passear, conhecer a cidade - normalmente nós só conhecemos o hotel, o backstage do show, talvez o aeroporto. [risos] Mas eu conheci lugares muito bonitos no Rio, gostei muito da cidade. Eu também acho que vai ser muito empolgante tocar nas outras cidades da turnê, porque, quando você volta a algum lugar depois de um intervalo muito grande, ou toca numa cidade pela primeira vez, parece que há uma energia especial. As pessoas ficam muito animadas. Então eu estou esperando que seja selvagem, de verdade. [risos]

Itapema: Como vai ser o show que vocês vão apresentar por aqui? O que vocês vão tocar?
Kiske: Nós fizemos uma seleção das faixas mais matadoras da setlist da última turnê [a Pumpkins United World Tour] - não vamos tocar três horas como já tocamos em outras ocasiões; eu acho que a apresentação fica em torno de uma hora e meia. É um show muito divertido, porque nós temos muitas músicas conhecidas entre as quais escolher, muitas músicas que os fãs gostam de ver ao vivo. Geralmente é mais difícil de escolher quando nós temos um setlist muito curto para montar - aí deixamos tudo nas mãos do nosso empresário, porque jamais conseguiríamos entrar em consenso sobre o que tocar. [risos]

Itapema: A Pumpkins United World Tour reuniu novamente integrantes de todas as eras do Helloween. Como tem sido essa experiência, de fazer shows com músicos com quem você não tocava há tanto tempo, e outros com quem nem tinha chegado a tocar?
Kiske: É maravilhoso. Sabe, quando essa ideia surgiu, ninguém sabia onde ia dar. Teve uma vez, acho que foi em 2013, na Espanha, depois de um show do Unisonic [banda paralela de Kiske, fundada em 2009, e que também conta com Kai Hansen], em que eu encontrei o Michael [Weikath, guitarrista do Helloween] e falei "Michael, nós devíamos fazer alguma coisa com o Helloween" - e imediatamente o Kosta [Zafiriou], que toca bateria no Unisonic e também faz parte da administração da banda, disse "O que você acha que vai acontecer quando eu mencionar isso no escritório?". [risos] Dois anos depois, lá estávamos nós, tendo nossa primeira reunião - eu lembro que foi um dia antes do meu aniversário.

Claro que foi meio esquisito no começo, porque ninguém sabia muito bem o que esperar - e eu acho que é bem normal, considerando a história que nós temos. Mas, cada vez que nos encontrávamos, íamos ficando mais relaxados. E eu me dei bem logo de cara com os integrantes que eu ainda não conhecia; o Andi [Deris], o Dani [Löble] e o Sascha [Gernstner]. Houve uma certa tensão entre Andi e mim, já que ele pegou meu trabalho... [risos] Mas o mais legal é que nós dois nos demos muito bem. Nós realmente gostamos um do outro! Andi é uma pessoa maravilhosa. Às vezes nós dois saímos juntos, mesmo sem ter compromissos da banda, sabe?

Acho que, se não tivesse acontecido dessa forma, nós teríamos cumprido o contrato inicial, que era de só uma turnê, e parado por aí. Não teríamos continuado fazendo shows juntos se não estivéssemos nos divertindo de verdade. E eu acho que é a primeira vez que um grupo de rock faz isso - os antigos integrantes voltam, mas ninguém vai embora: todos continuam juntos na banda! É uma grande festa. E você não deixa nenhum fã bravo: se os fãs do Andi vão ao show, ele está lá; se os fãs do Kiske vão ao show, ele está lá. [risos] Eu estou realmente muito feliz a respeito disso tudo.

Itapema: Você comentou que o plano original para esse semestre não era sair em turnê, e sim trabalhar no próximo álbum. Você já pode nos adiantar alguma coisa sobre como o disco vai ser, ou quando vai ser lançado?
Kiske: Nós temos certeza absoluta de que vai ser lançado no ano que vem. Fizemos uma primeira sessão em que ouvimos gravações e ideias uns dos outros, e nós já temos tantas músicas! Acho que já temos umas quinze canções, que, claro, ainda precisam ser finalizadas. Eu gosto especialmente das músicas do Andi; ele tem um material com o qual eu me identifico bastante. Nós temos bastante faixas de speed metal; acho que até demais, na minha opinião. [risos] Penso que o álbum vai trazer um pouco do som que o Helloween apresentou em cada uma de suas eras; tudo reunido, já que estamos todos juntos agora. Mas claro, nós ainda precisamos ver exatamente o que vai acabar entrando no disco ou não.

Itapema: Você já está na indústria musical há um bom tempo; e as coisas mudaram muito desde que você e o Helloween começaram a carreira. Como você vê o negócio da música hoje em dia? É mais fácil ou mais difícil para as bandas que estão começando, por exemplo?
Kiske: É fácil para nós, porque somos dinossauros: nós construímos nossa carreira nos anos 1980 e conseguimos nos manter através dos anos 1990 - e hoje conseguimos tocar em lugares muito maiores, por exemplo, do que conseguíamos naquela época. Eu acho que o Helloween nunca foi tão bem-sucedido, mesmo na Alemanha.

Mas acho que, para bandas mais jovens, que estão começando, é muito mais difícil: a tecnologia avançou a um ponto que, mesmo sem muito investimento, você consegue gravar um álbum decente e lançar na internet - então a internet está inundada de conteúdo. Por um lado isso é bom, é claro; mas, por outro, é muito mais difícil para uma banda - mesmo uma banda boa - chamar atenção. Nos anos 1970, você só assinava com uma gravadora quando já era uma banda "de verdade", já tinha material, já tinha feito até alguns shows ao vivo e chamado a atenção do público. Acontecia meio que uma "seleção natural". Eu tenho certeza de que existem bandas maravilhosas que não estão sendo ouvidas, porque estão perdidas no meio de todo esse ruído. Existem muitos lugares aqui na Europa que até cobram para deixar que bandas menores ou mais jovens se apresentem ao vivo, porque todo mundo quer fazer shows! Até o negócio de shows está saturado.

A indústria de discos também está morrendo; eles vendem cada vez menos. Ninguém mais quer investir um monte de dinheiro em uma gravação que talvez nem vá vender tanto assim - hoje em dia, é com shows que os músicos ganham dinheiro. Olha o Aerosmith, por exemplo - por que você acha que eles não perdem tempo fazendo álbuns? Por que eles vão passar um ano enfiados em um estúdio, gastando milhões de dólares para gravar um disco, quando podem simplesmente fazer turnês e ganhar bem mais dinheiro? E eu acho isso meio triste; porque, pra mim, apresentações ao vivo são uma coisa, e trabalhos de estúdio são outra. Um disco é uma obra de arte.

Rock ao Vivo - Shows Scorpions e Helloween
Quando: Dia 28 de setembro, sábado, às 22h (abertura da casa às 19h)
Onde: Arena Petry (4000, SC-281, São José)
Classificação: 14 anos
Ingressos no site Uhuu!

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