Milton Nascimento nega pedido de Roger Waters para cancelar show em Israel

02.07.2019 | 14h20 - Atualizada em: 02.07.2019 | 15h24
Por GaúchaZH null

BLOG

Mundo Itapema

Convidado pelo ex-Pink Floyd a desistir da apresentação em Tel Aviv, ícone da MPB disse que nem na ditadura militar do Brasil se deixou de cantar para os seus fãs

Instigado pelo roqueiro Roger Waters a cancelar seu show em Israel, previsto para ocorrer neste domingo (30) na capital Tel Aviv, o músico Milton Nascimento respondeu ao pedido: disse que não iria aceder ao boicote e que inclusive já estava no país do Oriente Médio. O texto foi divulgado em suas redes sociais no sábado (29). "Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?", escreveu o cantor e compositor de 76 anos, que desembarcou em Israel na sexta-feira (28).

Um dos maiores apoiadores do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel (BDS), Roger Waters escreveu que havia tentado contatar o brasileiro, ícone da MPB, pedindo para conversar sobre o boicote, mas que a equipe do músico não havia retornado. "Quando li que ele estava planejando cruzar a linha de piquete do movimento de BDS para se apresentar em Tel Aviv, fiquei chocado. Eu escrevi para Milton pedindo uma oportunidade de falar com ele. Nem ele nem ninguém de sua equipe me respondeu", escreveu Waters.

Milton Nascimento explicou que foi convidado a se apresentar em Israel por uma empresa gerenciada por um brasileiro, o que, em sua opinião, refutaria o argumento de que ele contribuiria à repressão promovida pelo governo de israel ao povo palestino. Também citou o período da ditadura militar no Brasil para mostrar que poucas vezes declinou de um convite para se apresentar.  

"Este show não tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense", escreveu o carioca criado em Minas Gerais. "Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público", completou. 

O show de Milton em Israel faz parte da turnê Clube da Esquina. Metade dos ingressos em Tel Aviv já foram vendidos — a lotação do Auditório Charles Bronfma é de 2,4 mil pessoas. Depois de Israel, Milton volta à Europa para dois show antes de retornar ao Brasil para dar prosseguimento à turnê, que chega a Porto Alegre em outubro deste ano, com apresentação no Auditório Araújo Vianna. O produtor do show em Israel, o brasileiro Daniel Ring, da produtora Octopulse, disse à Folha de S. Paulo que já havia preparado os empresários de Milton para o que aconteceria: 

— Já tivemos vários casos assim. Antes até de fechar e começar a divulgar, enviei uma carta para eles explicando exatamente o que ia acontecer. Falei que havia 100% de chance de haver protestos de um grupo, do BDS. Eles já tavam estavam preparados para isso — disse Ring.  Entre os sucessos culturais do BDS, o grupo conseguiu a suspensão de shows em Israel de artistas como Lorde, Gorillaz, Elvis Costello, Stevie Wonder e Lana Del Rey. 

Leia o texto completo de Milton Nascimento: 

“Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo? Já estou em Tel Aviv desde ontem. Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o 'apartheid israelense'. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público. Afinal, são as pessoas que importam e que podem transformar. Minha questão, a qual deixo aqui para reflexão de todos: por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!”   

Matérias Relacionadas