"Não é cinema": de Scorsese a Jennifer Aniston, entenda a onda de críticas aos filmes da Marvel

29.10.2019 | 11h58 - Atualizada em: 29.10.2019 | 12h06
Por Anna Rios
Martin Scorsese tem em sua carreira longas como "Cassino" e "O Lobo de Wall Street"

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Cineasta Martin Scorsese deu início a uma longa discussão na internet

Desde o lançamento de Coringa (2019), em setembro, o nome de Martin Scorsese aparece ligado ao mundo dos super-heróis. Se no início o cineasta aparecia como uma das principais referência no longa de Todd Phillips, contudo, o tom do discurso logo mudou quando ele decidiu criticar publicamente o Universo Cinematográfico Marvel.

— Aquilo não é cinema. Honestamente, o mais próximo que consigo pensar deles, por mais bem feitos que sejam, com os atores fazendo o melhor que podem sob as circunstâncias, são os parques temáticos — declarou Scorsese em entrevista à revista Empire, durante a divulgação de seu novo longa, O Irlandês.

Isso foi em três de outubro. Três semanas depois, entretanto, a onda de críticas — e defesas — aos super-heróis continua se expandindo, unindo desde nomes como de Francis Ford Coppola, do cultuado O Poderoso Chefão, a Jennifer Aniston, da sitcom Friends

Em um campo de batalha tão apinhado — e confuso — quanto o confronto final de Vingadores: Ultimato, veja quem disse o quê no duelo "Marvel versus o Mundo do Cinema". 

DIA UM

Foto: Divulgação

A declaração bombástica de Scorsese, o diretor de clássicos como Taxi Driver e Os Bons Companheiros, não precisou de muito para correr o mundo, tornando-se o assunto mais comentado em redes sociais e acirrando o debate entre críticos e defensores das adaptações cinematográficas de quadrinhos.

Quem resumiu bem o sentimento do dia para grandes fãs dos dois personagens principais dessa história — Scorsese e Marvel — foi James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia:

"Martin Scorsese é um dos meus cinco cineastas vivos favoritos. Eu fiquei ultrajado quando as pessoas criticaram A Última Tentação de Cristo sem ter visto o filme. Eu fico triste que ele, agora, julgue meus filmes da mesma maneira. Dito isto, sempre vou amar Scorsese, ser grato pela contribuição dele ao cinema e mal posso esperar para assistir a O Irlandês", escreveu em seu perfil no Twitter.

DIA DOIS

Foto: Divulgação

Nick Fury sempre defendeu a necessidade dos super-heróis e Samuel L. Jackson não negou os princípios de seu personagem. O ator declarou em entrevista a Variety, em cinco de outubro, que a afirmação de Scorsese era como "dizer que o Perna Longa não é engraçado — um filme é um filme". E aproveitou para lembrar ao cineasta que ninguém é unanimidade no entretenimento:

— Nem todo mundo gosta dos filmes dele também. Eu gosto, mas tem muitos ítalo-americanos que não deveriam ser mostrados como são em seus longas. Todo mundo tem uma opinião, por mim tudo bem. Não vai impedir ninguém de fazer filmes.

DIA QUATRO

Foto: Divulgação

Falando em vestir a camiseta do personagem, Robert Downey Jr. colocou a armadura inteira do Homem de Ferro ao falar sobre a polêmica — ao menos, a versão mais magnânima que Tony Stark atingiu ao final de seu arco na Marvel — no programa The Howard Stern Show, em 7 de outubro. 

O próprio ator trouxe o assunto à tona, brincando que "precisava dar uma olhada" no que seriam os filmes da Marvel, já que "segundo Scorsese eles não são cinema". Downey levou a situação com ironia, afirmando que eles "passam nos cinemas" e que não concorda com a afirmação porque seria como dizer "que Howard Stern não é rádio". 

Pressionado por Stern a criticar Scorsese mais firmemente, contudo, o astro defendeu o cineasta:

— Você realmente acredita que Martin Scorsese está chateado por causa dos filmes da Marvel? — questionou. Ele ainda refutou a hipótese de que o diretor estaria "com inveja": —Claro que não! Ele é Martin Scorsese. 

Por fim, Downey afirmou que nenhum ponto de vista pode ser descartado.

— Há muito a ser discutido sobre como esses filmes de gênero, e fico feliz por ter feito parte do "problema", se é que existe um, depreciaram a forma de arte do cinema.

DIA SEIS 

Foto: Divulgação

Mesmo quem não parecia ter muito em comum com o mundo dos super-heróis decidiu entrar na conversa. No dia 9 de outubro, por exemplo, a revista Variety divulgou uma entrevista na qual Jennifer Aniston, estrela de Friends, afirmou que o cinema se reduziu a filmes da Marvel, o que explicaria seu retorno à televisão com a série The Morning Show.  

 — Você vê que o que está disponível lá fora está apenas diminuindo e diminuindo em termos de: são só grandes filmes da Marvel (no cinema). Ou são coisas que não me pedem para fazer ou são para pessoas que estão realmente interessadas em viver em uma tela verde — disse Jennifer, referindo-se ao fundo utilizado em estúdios para gravar as cenas com efeitos especiais. 

DIA DOZE

Foto: Divulgação

A polêmica parecia estar ficando para trás quando o cocriador de Lost e atual responsável por Watchmen — série da HBO que retorna à história homônima de Alan Moore para falar, veja bem, de super-herós — resolveu colocar um pouco mais de lenha na fogueira. Damon Lindelof afirmou que é injusto julgar os filmes da Marvel como se fossem todos iguais, afirmando que há iniciativas fora da curva. 

—Há um espaço no universo Marvel que está começando a ser explorado, que é provocativo e interessante — afirmou no tapete vermelho de Watchmen. — Logan ou Pantera Negra estão muito próximos, na minha opinião, ao cinema e colocar todos os filmes da Marvel na mesma caixa não parece justo.

Ele ainda sugeriu que talvez Scorsese esteja, na verdade, desinformado:

— Estou curioso sobre quantos filmes da Marvel ele assistiu.

 DIA DEZESSETE

Foto: Divulgação

Para Francis Ford Coppola, entretanto, Scorsese foi bondoso. Durante a entrega do Prêmio Lumière, na França, o diretor afirmou que os longas do universo dos super-heróis são "desprezíveis":

— Quando Martin diz que a Marvel não faz cinema, ele está certo porque nós esperamos aprender algo com o cinema, algum tipo de conhecimento, iluminação, inspiração. Eu não conheço ninguém que tire algo disso ao ver o mesmo tipo de filme várias e várias vezes seguidas. 

Ele ainda finalizou sua declaração defendendo Scorsese:

— Martin foi bondoso ao dizer que os filmes da Marvel não são cinema, pois eu os acho desprezíveis. 

DIA DEZENOVE

Foto: Divulgação

Já Jon Favreau — que não apenas estrelou uma série de filmes da Marvel como Happy (o motorista e amigo de Tony Stark), como dirigiu o primeiro e segundo filme de Homem de Ferro — decidiu colocar panos quentes na situação. Em entrevista à CNBC, divulgando a série de Star Wars The Mandalorian, da qual é criador, ele afirmou que Scorsese e Coppola são seus heróis e "conquistaram o direito de expressar suas opiniões":

— Eu não faria o que eu faço hoje se eles não tivessem aberto o caminho. Eles serviram como fonte de inspiração para mim. É possível ver isso em Swingers – Curtindo a Noite, quando faço uma referência a Martin. 

Quem concordou com a posição de Favreau foi Bob Iger, nada menos que o CEO da Disney — dona da Marvel Studios. Em uma apresentação no Wall Street Journal Tech Live, também em 22 de outubro, ele afirmou que todos têm o direito de reclamar dos longas, mas que vê as declarações como injustas. 

— Francis Ford Coppola e Martin Scorsese são duas pessoas por quem tenho o maior respeito. Mas, quando Francis utiliza as palavras "esses filmes são desprezíveis"… eu guardo a palavra "desprezível" para alguém que comete assassinatos em massa. Esses são só filmes.

Ele ainda ressaltou que, independente das críticas, em dez anos os filmes da franquia arrecadaram mais de 18 bilhões de dólares.

DIA VINTE E UM

Foto: Divulgação

Por fim, um dos grandes nomes da Marvel Studio, o ator britânico Benedict Cumberbatch — que interpreta o Dr. Estranho nos cinemas — comentou a polêmica inteira, em entrevista ao The Jenny McCarthy Show. As informações são da Collider.

— Sei que existiu muito debate, nos últimos dias, com esses ótimos cineastas dizendo que as franquias estão tomando conta de tudo. Mas sorte temos nós, atores, que podemos fazer as duas variedades nos pólos de orçamento. Não queremos que um rei mande em tudo e tenha uma espécie de monopólio (com sorte, este não é o caso). E o que nós realmente precisamos é continuar a apoiar os diretores em todos os níveis.

Por GaúchaZH

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