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Aos 73, canadense segue firme no propósito um tanto insano de lançar um disco por ano
Já faz pouco mais de uma década que Roberto Carlos, 78, desistiu de lançar um álbum por ano; seu último de inéditas é de 2012. Mas Neil Young, 73, segue firme nesse propósito um tanto insano, típico dos anos 1960 e 1970. Desde 2010, o canadense lançou dez discos. Dez! Ainda que um deles tenha sido de covers ("Americana") e outro, o resgate de uma gravação de uma fabulosa noite solitária num estúdio em 1976 ("Hitchhiker"), Young impressiona pela produção sem fim.
"Colorado", considerado seu 39º álbum de estúdio, saiu na sexta (25). Tem esse nome porque foi gravado em um estúdio nas montanhas do Colorado, nos Estados Unidos, onde o roqueiro mora com sua mulher, a atriz Daryl Hannah. Ele havia considerado o nome "Pink Moon", mas mudou de ideia por Nick Drake já tê-lo usado em um disco de 1972.
A 2.700 metros de altura e com idade média da banda de 74 anos, Young, Nils Lofgren (guitarra), Billy Talbot (baixo) e Ralph Molina (bateria) tiveram de lidar com câmeras -que gravaram o processo todo- e tanques de oxigênio. O resultado é bom, mas não chega às alturas. Não há nada que atinja grandes sucessos como "Heart of Gold" (1972), "My My, Hey Hey" (1979), "Rockin' in the Free World" (1989) ou "Harvest Moon" (1993). Todas essas canções são poderosas o suficiente para conquistar novos ouvintes com apenas uma audição. Em "Colorado", porém, o artista prega para convertidos.
"Think of Me" abre o disco de uma forma que os fãs adoram -com gaita. Outras baladas mostram a força de Young na melodia: "Olden Days", "Green Is Blue", "Eternity", "Milky Way" e "I Do". Essas duas últimas são mais do que boas; são excelentes, lembrando o clima e a entrega de clássicos da desesperança lançados em "On the Beach" (1974), como a faixa-título, "Motion Pictures" e "Ambulance Blues".
São os rocks mais pesados que ficam a desejar, especialmente a enfadonha "She Showed me Love", com insuportáveis 13 minutos e 36 segundos. É uma estratégia recorrente de Young, de pôr sempre uma canção pesada para que possa solar indefinidamente.
A fórmula funcionou muito bem quando inaugurada, em seu segundo álbum, de 1969, com "Cowgirl in the Sand" (dez minutos) e "Down by the River" (nove minutos). Também deu certo em 1994, com "Change My Mind" (14 minutos e 39 segundos). Mas desta vez não passa de encheção de saco. Quanto às letras, nada de novo -amor e necessidade de salvar a natureza.
Como em diversos álbuns, Neil Young e seu Crazy Horse tocaram ao vivo no estúdio. Isso significa que, em vez de cada um tocar sozinho para os instrumentos serem mixados depois, os quatro tocam e cantam ao mesmo tempo, como num show, e é isso o que se escuta no disco. Eventuais erros e imperfeições são considerados parte do processo. Se, em alguns casos, esse método pode capturar a energia real de uma banda, em outros pode parecer uma forma fácil de entregar um trabalho. No caso, acontecem os dois.
Conforme Nils Lofgren contou à revista americana Rolling Stone, quando os 11 dias de gravações terminaram, Young considerou o trabalho como "um grande começo". Pouco depois, entretanto, afirmou que achava que o álbum era aquilo mesmo. E assim foi.
Lofgren, que tocou no grande álbum "After the Goldrush" (1970) e no sensacional "Tonight's the Night" (1975), está de volta ao Crazy Horse após 44 anos. Ele substitui o aposentado Frank Sampedro, que tocava guitarra na banda de apoio desde 1975. Há 33 anos, Lofgren também faz parte da E Street Band, que acompanha Bruce Springsteen em seus shows. Daí se cogita um show duplo para o ano que vem, com Young e Springsteen dividindo os palcos e também o guitarrista.
Por GaúchaZH