Pensando Sobre Games: dificuldade

25.03.2021 | 11h00
Por Joana Caldas
Repórter do G1/SC e editora do blog Pensando Sobre Games
Cuphead

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Você gosta de passar sufoco ou prefere um desafio mais moderado?

Eu nunca fui uma pessoa que curtisse jogos difíceis. No meu primeiro videogame, o Mega Drive, dos meus tempos de criança, não sabia inglês, mas já identificava a palavra "easy" como algo desejável. Com ela, pude chegar ao fim de vários jogos, como Streets of Rage, Mortal Kombat e Street Fighter II.

Capcom/Divulgação

Mas também dá para dizer que no tempo do Mega Drive os games eram bem mais difíceis do que hoje. Seja para mascarar uma jornada curta ou impedir que o jogador conseguisse chegar ao final só alugando o título na locadora, a dificuldade fazia parte da brincadeira. Porém, para uma criança de 5 anos que estava aprendendo a mergulhar no mundo dos jogos eletrônicos, muitas vezes ela não era bem-vinda.

Nos tempos do Nintendo 64, houve uma mudança para mim. Vários games não tinham escolha de dificuldade, como Super Mario 64, Banjo-Kazooie ou Zelda Ocarina of Time. Era aquilo ou não jogar. E assim você vai aprendendo a escolher o desafio "normal" em vez do fácil. Porque, se você consegue chegar ao final do Ocarina of Time, também vai ser vitorioso em outros títulos, não é mesmo?

Desde então, eu vou de dificuldade "normal". Mas há muitos jogadores por aí que curtem um desafio à moda antiga, quase do nível dos fliperamas, que estavam ali para engolir as suas moedas. Para atingir esse nicho, há os jogos que já nascem com a fama de difíceis.

Confesso que acho um pouco cansativa essa aura mística em torno dos games desafiantes, que muitas vezes vem mais do marketing. Porém, um dia desses meu amigo que está jogando comigo nos fins de semana da pandemia veio com Cuphead. Você já ouviu falar deste game? Se já, tenho certeza que ouviu que é difícil. Como meu amigo já tinha o jogo, eu entrei como o player 2 para ver qual é. E já morremos na primeira fase.

Studio MDHR Entertainment Inc./Divulgação

Contudo, Cuphead é um jogo bem feito, de ação muito rápida (coisa que eu adoro desde os tempos de Sonic no Mega Drive) e fácil de recomeçar. Quando você perde no jogo, e você vai morrer muito, basta apertar em "retry" para tentar novamente. Não há checkpoints nas fases e em muitas vezes você vai estar quase no final, perder e ter que recomeçar lá do início. Um mapinha no estilo linha do tempo mostrará o quão perto do sucesso você esteve.

Isso parece bem frustrante, não? Tem horas em que aparecerá um monstro enorme e você não saberá como desviar dos ataques dele e perderá em segundos. Tem muitas vezes em que parece impossível. E sabe do que mais? Você quer continuar jogando.

Isso é a diferença entre um bom game difícil, em contraste com aqueles cuja dificuldade é a única coisa que ele oferece. Cuphead tem uma direção de arte linda, cenários bonitos, gráfico de desenho animado antigo. A animação dos personagens, tanto dos heróis quanto dos inimigos, é maravilhosa e a trilha sonora combina e é bem legal.

A dificuldade está lá, mas ela é justa, por incrível que pareça. À primeira vista, pode ser que você ache impossível desviar de um ataque, mas logo vai descobrir um jeito. Isso força o jogador a conhecer todas as habilidades dos heróis.

E sabe do que mais? Eu me frusto um pouco, entretanto é viciante ver o seu progresso, ver você jogando melhor, bolando novas estratégias. Eu sou uma jogadora que adora se sentir poderosa perante os inimigos (obrigada, Hyrule Warriors Age of Calamity!), mas Cuphead é um desafio interessante. Não me atrevo a recomendá-lo para quem não gosta de jogos difíceis, já que meu principal incentivo para continuar é a diversão que tenho com meu amigo. Sozinha, já teria desistido faz tempo. Porém, se você procura um bom desafio à moda antiga, no estilo Contra, acho uma boa pedida.

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