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Uma entrevista com uma jovem que já fez esse trabalho em oito campeonatos
Hoje a gente vai fazer diferente no Pensando Sobre Games. Vou trazer uma entrevista que fiz com uma moça que mora aqui em Floripa e faz um trabalho de interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) em campeonatos de esportes eletrônicos (eSports).
É a Jessyka Maia de Souza, de 26 anos, conhecida pelos jogadores como "Suuhgetsu". Ela contou como começou o contato com os games e o sentimento de que precisava aprender uma nova linguagem para se comunicar com pessoas com alguma deficiência auditiva.
"Eu comecei a entrar no eSports... Na verdade, desde pequena, porque eu sempre joguei. Eu já sou gamer desde criancinha. Meu pai tinha uma lan house, então eu já tive muito contato desde nova, com computador, com o sistema, com montar computador, com jogar, fechar lan house pra jogar CS [Counter-Strike]", disse Jessyka.
Ela citou também outros games queridos da infância. “Eu lembro de alguns que me marcaram bastante, me influenciaram e me estruturam como gamer. Foram CS 1.6, Ragnarok e The Sims. The Sims é o que eu mais lembro porque eu estou desde o The Sims 1”, declarou.
A história de como ela começou a se interessar por Libras é curiosa. Foi através da namorada surda de um tio. "Ele trouxe a menina e a minha vó começou a falar assim: 'ele não quer nada com a vida, ele não quer trabalhar. Se você ficar aqui, tu vais ficar estagnada que nem ele'. E a moça olhava pra ela, sorria e baixava a cabeça. Ela falou 'Ah, eu não acredito, ainda tá debochando de mim'. Aí ele falou 'não, ela é surda'", contou.
"Todo mundo ficou 'caramba, mas por que você não avisou que ela era surda, porque ninguém tinha ficado falando com ela o tempo todo, igual a gente tá falando, né?' E aí ninguém sabia libras, a gente nem sabia o que era libras. Ela se comunicava por papel", continuou.
Mas essa forma logo não foi suficiente e Jessyka pediu para que a moça a ensinasse alguns sinais. O interesse cresceu e fez com que Suuhgetsu escolhesse letras-Libras como seu curso na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A junção da linguagem de sinais com os games surgiu enquanto ela jogava o famoso League of Legends com um professor surdo da faculdade. “Eu comecei a perceber situações que ele não reagia a interações com som", explicou Jessyka.
E descreveu uma delas: “Quando o Sion ulta [dá a habilidade mais forte], ele vem correndo e ele vem dando grito de guerra. Desde a hora que ultou, ele vem até bater em alguma coisa. E aí, eu notava que ele, o professor, só reagia, quando ele já estava vendo o Sion. Eu falava assim, ‘nossa, mas se ele já está gritando desde antes, por que você não reagiu?’”. O professor respondeu: “Porque eu não sabia que tinha som”.
Assim, Jessyka começou a pesquisar sobre o assunto e encontrou nas redes sociais uma comunidade de gamers surdos. Eles iam fazer um campeonato e ela se ofereceu para ser intérprete. Isso foi em 2017.
Desde então, foram outros sete eventos, o mais recente deles em maio, uma copa para pessoas com deficiência.
Para quem quiser seguir o mesmo caminho, aqui vai o recado da Suuhgetsu: “Para você ser um intérprete de Libras, você precisa ter o bacharel em Libras e, principalmente, assim, ó, o primordial: você precisa ter contato com pessoas surdas. Você precisa estar na comunidade surda, você precisa conhecer a comunidade surda. Eu falo isso, parece muito óbvio, mas não é. Tem alguns intérpretes que eles sabem Libras e só. E pra você entregar uma boa qualidade do seu trabalho, você precisa saber o que a comunidade surda quer”.
E também entender de games! “Para você atuar dentro do eSports, você precisa jogar. Você precisa saber o jogo que você vai tá interpretando, né?”, resumiu.
Com essa fala da Jessyka, eu me despeço de vocês por um mês. Não se preocupe, eu vou apenas tirar férias 😊 Em julho, estou de volta para a gente continuar nossa conversa sobre este hobby apaixonante que são os games. Até mais, pessoal!