BLOG
Idade e falta de tempo interferem em como o gamer encara um jogo?
Se você é adulto e gosta de videogames, provavelmente queria ter mais tempo para este hobby. E se já jogava quando criança deve se lembrar do tempo em que era só fazer o dever de casa e você já estava livre para passear por Hyrule ou tentar derrotar o Dr. Robotinik ou o Dr. Cortex.
Eu andei pensando esses dias sobre essa transição do jogador criança para o adulto. Com o fator tempo, também surgem mais diferenças.
Refleti sobre isso quando resolvi jogar Super Mario 64. Eu nunca cheguei ao final deste clássico, então resolvi tentar fechá-lo. Eis que o adulto pensa um monte de coisas: “nossa, a câmera vai ser ruim”, “os gráficos vão ser estranhos (ainda mais jogando no Wii, como eu estou fazendo)”, “esse jogo ainda tem vidas, que antiquado”, “é muito primitivo, os mundos são muito simples” e “talvez eu não tenha paciência para chegar ao final”.
Conversando com amigos, vejo que é importante para um jogador adulto o senso de progresso. Ou seja, você quer jogar, mas quer sentir que está progredindo no jogo, que toda vez que você liga o videogame você avança um pouquinho. Ou você está “perdendo tempo”. Não consegue passar? Olha um detonado na internet. Personagens não param de falar? Começa a pular os diálogos. Mundo é muito grande? Então bora ignorar esse monte de pontos de interesse que o game colocou no mapa.
O jogador adulto pensa tanta coisa. Quando você era criança, duvido que tenha se prendido a tudo isso.
Uma criança abraça a chance de jogar e fica feliz jogando. E só. Fica feliz por fazer o Sonic correr, nem que seja para morrer no próximo obstáculo.
Tudo isso falei para chegar à grande magia que é Super Mario 64. Ele é um jogo feito para brincar. Não foi feito para te dar um senso de progresso, para você ficar limpando mapas (Ubisoft, vamos melhorar?) ou só para você passar as fases e correr pro chefão. Ele foi feito para você ir para outro mundo e ficar brincando e experimentando com as habilidades do nosso protagonista bigodudo.
Eu, jogadora adulta, já comecei Super Mario 64 pensando que só preciso de 70 estrelas para ver o chefão final, já imaginando que títulos jogaria depois dele. E é incrível como passar alguns minutos com este game faz você esquecer isso e voltar a ser criança, no sentido de brincar.
Mesmo que você queira ser objetivo e só pegar as estrelas e sair, o jogo não premia esse comportamento. Ele favorece o jogador que explora, que fica pulando em todo lugar e, de repente, encontra um segredo. Como aqueles seus amigos que tinham um Super Nintendo e encontraram um monte de chaves no Super Mario World enquanto você sua para passar as fases normalmente. Eles acharam essas chaves assim como você encontrou os caminhos alternativos nos games do Sonic: brincando.
No Super Mario 64, você logo vai se esquecer que tem que pegar 70 estrelas e vai sair por aí explorando os mundos, tentando alcançar lugares novos, bolando maneiras de pegar uma estrela que você está vendo, mas não sabe como chegar lá.
A mágica deste game, e talvez dos jogos da Nintendo em geral, está em trazer um mundo para o jogador brincar, em vez de uma lista de tarefas para ele fazer. Muitas desenvolvedoras parecem achar que é uma lista que o gamer quer. E talvez uma parte até queira. Porém, eu sempre vou achar incríveis os jogos que me fazem esquecer que estou num game, que fazem com que a gente se perca em um mundo virtual.
Tenho certeza de que pegarei mais do que 70 estrelas. Por que ter pressa de sair da caixa de brinquedos que é Super Mario 64?