Pensando Sobre Games: trabalhadores da indústria

26.08.2021 | 11h00
 Joana Caldas
Por Joana Caldas
Repórter do G1/SC e editora do blog Pensando Sobre Games
Overwatch

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É triste quando a gente descobre que um jogo do qual a gente gosta foi feito em um ambiente que não trata bem todos os funcionários

Nem sou muito fã do jogo de tiro Call of Duty. Mas o recente trailer do novo título da franquia, o Vanguard, trouxe um sorriso pro meu rosto. A série voltou às origens, a Segunda Guerra Mundial. Há um modo campanha com diferentes cenários do conflito, seja Europa ocidental ou oriental, o Pacífico e o Norte da África.

Só que logo o sorriso sai do rosto. Porque é impossível se lembrar de Call of Duty sem se lembrar da Activision, a publicadora da franquia. E não dá para desvincular a empresa das terríveis notícias recentes sobre ela.

Nem sou muito fã de "Call of Duty", mas o recente trailer do novo título da franquia trouxe um sorriso pro meu rostoActivision/Divulgação

Caso você não saiba, a Activision se juntou à Blizzard, aquela de jogos como Diablo, World of Warcraft e, mais recentemente, Overwatch. E a agora Activision Blizzard está respondendo a um processo nos Estados Unidos, no estado da Califórnia. Essa ação afirma que a Blizzard teve vários casos de assédio sexual e discriminação contra funcionários, como pagar menos às mulheres e não as promover a melhores cargos.

Em nota à imprensa, a Blizzard chamou a ação judicial de “comportamento irresponsável de burocratas do Estado que estão afugentando as melhores empresas para fora da Califórnia”. A ação foi ajuizada em 20 de julho e, em 3 de agosto, a empresa anunciou uma troca de liderança.

Bem, depois deste parágrafo jornalístico, escrevo que isso tudo deixa a gente triste. É lamentável toda essa situação. É triste pensar que um jogo do qual a gente gosta é feito num ambiente de trabalho que não é legal com todos os funcionários.

Essa não é a única empresa que teve esse tipo de problema, infelizmente. O mais angustiante é que não sei bem qual seria a ação mais efetiva que nós jogadores poderíamos tomar para tornar a indústria de jogos eletrônicos mais legal para esses trabalhadores.

Mas uma coisa eu acho bem estranha: tem vários gamers por aí que não gostam nem de ouvir falar nesses problemas da indústria. Gente que parece que coloca os dedos nos ouvidos e fica repetindo “lá lá lá lá” para não escutar esse tipo de notícia.

Eu não sei qual a medida mais eficiente para ajudar nesses casos de assédio nas empresas, porém fingir que a ação judicial não está acontecendo tenho certeza que não auxilia em nada. Essa falta de maturidade e de humanidade de alguns jogadores eu acho chocante.

Quem trabalha nessas empresas é gente como eu e você, e todo mundo merece ser respeitado. Essas notícias nos entristecem e diminuem a nossa empolgação com um jogo? Com certeza.

World of WarcraftBlizzard Entertainment/Divulgação

Fazendo um paralelo com o cinema, pode ser que um filme do qual você goste tenha sido produzido pelo Harvey Weinstein, que foi preso e condenado após muitas acusações de crimes sexuais (à Justiça, ele se declarou inocente). Fica aquela questão complexa para você refletir: dá para separar obra do criador? Dá para apartar a sua diversão com um jogo dessas notícias de ambientes horríveis de trabalho?

Eu não tenho respostas. A ideia é que você reflita. Assim como aconteceu no cinema, eu espero que essas notícias assustadoras sobre a indústria dos games no fim façam com que uma parcela significativa das pessoas que consuma essas mídias pense nessas questões e realmente comece a expressar o seu desgosto. Quem sabe o burburinho de muitos jogadores chocados e enojados com as possíveis atitudes ilegais de alguns maus funcionários e líderes ajude a termos uma indústria mais ética.

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