Registro inédito de Cazuza ganha clipe de animação assinado por Humberto Barros

20.08.2021 | 18h22 - Atualizada em: 24.08.2021 | 10h12
Marina Martini Lopes
Por Marina Martini Lopes
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clipe "Mina"

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Mundo Itapema

"Mina" foi originalmente gravada para o álbum "Só Se For a 2", de 1987

"Mina, como vai? Como você cresceu!". Uma fala banal, que, nas mãos de Cazuza, vira verso inicial do retrato de uma jovem independente, de olhos famintos ("dois aquários de morfina"), que "se vira na rua sozinha, com coragem e comprimidos". Um retrato ainda mais fascinante por sair da voz de um narrador perplexo, que tenta aceitar que sua garotinha não é mais uma garotinha (agora, intranquilo, ele diz à menina que ela é "íntima de uns caras que eu te escondia"). Uma personagem do Rio da década de 1980 que circula com desenvoltura em 2021.

Mina sai do baú de Cazuza e ganha as ruas mais de 30 anos depois de o compositor registrá-la em estúdio - um registro de sua voz que ouvimos agora, pela primeira vez, no single lançado pela Universal Music, com clipe animado por Humberto Barros. Parceria do letrista com George Israel e Nilo Romero (trio que assina clássicos como Brasil e Solidão, Que Nada), a canção entraria no disco Só Se For a 2, de 1987, mas acabou ficando fora.

- Eu e George tínhamos uma mesinha de quatro canais, que gravava em fita cassete, e vivíamos fazendo músicas, gravando ali e dando as fitas pro Cazuza - lembra Nilo. - Ele era uma usina de fazer letra. Quando ele ouvia já cantava alguma coisa na hora, levava a fita e no dia seguinte trazia a letra pronta. Podia mexer depois, mas nunca sofria pra fazer; era muito solto.

Cazuza sempre se inspirava no que via e vivia. Mina bebe de uma situação específica que os músicos vivenciaram depois de um show em Araxá:

- Saímos pra comer uma pizza e a determinada altura apareceu um cara querendo mandar numa das meninas que estava ali - conta Nilo. - "Esse aí me viu crescer e acha que é meu dono", ela disse. Lá pelas tantas, o cara pegou uma faca, Cazuza defendeu todo mundo, jogou uma mesa nele, o segurança chegou... Um tempo depois, veio Mina.

É curioso que, numa leitura da época, a canção poderia soar machista, por trazer o olhar dele sobre ela - olhar que, com indisfarçável moralismo, a descreve como inconsequente, louca demais. Porém, para o ouvinte e a ouvinte do século XXI, é difícil não perceber o sujeito como um pai, tio ou amigo careta, e se identificar com a menina, hoje diríamos, empoderada ("na barra pesada, como uma rainha"). Cazuza já dava as chaves para a leitura quando, logo depois de o narrador dizer que não quer "ser aquele cara chato", o coro responde com um "e é" - que soa espertamente como "yeah".

O clipe de animação (dirigido por Humberto Barros e Nilo Romero) traça em linhas mais fortes essa perspectiva atual, mostrando o narrador como um coroa de bengala que acaba sozinho na noite do Rio, enquanto ela aparece se relacionando com homens e com mulheres, cercada de amigos, o tempo todo alegre e dona de si.

Mina chegou a ser lançada por Leo Jaime, em 1990, e o próprio George Israel a gravou em 2007. Mas o registro de Cazuza se mantinha inédito até agora, quando chega às ruas com um arranjo refeito por Nilo. Ele chamou Rogério Meanda (guitarra) e João Rebouças (teclados) - músicos que, como ele, participaram da gravação original. Lourenço Monteiro (bateria) e Marcos Suzano (percussão) reforçam o time. O coro de Solange Rosa, Eveline Hecker e Paulinho Soledade é o mesmo de 1987.

Confira:

*texto de Leonardo Lichote

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