BLOG
Como nas demais áreas da cultura, também as galerias de arte estão sendo afetadas pela pandemia do novo coronavírus
Esqueça beijinhos, apertos de mão e o "tim tim" das taças dos vernissages. Como nas demais áreas da cultura, também as galerias de arte estão sendo afetadas pela pandemia do novo coronavírus. Como alternativa, muitas dessas casas em São Paulo e no Rio de Janeiro têm buscado o universo virtual para estreitar vínculos com os colecionadores e, quem sabe, manter as vendas em tempos de crise.
Isso significa investir em conteúdo para atualizar sites e alimentar as redes sociais - a mais citada entre as galerias ouvidas é o Instagram. Algumas casas têm, no entanto, aproveitado a crise para ir além. A galeria Nara Roesler desenvolve um ambiente virtual de exposições, solução implementada pela Art Basel Hong Kong deste ano - o evento físico foi cancelado por causa do coronavírus. Além disso, conta Alexandre Roesler, sócio da galeria, eles têm organizado conversas entre artistas e colecionadores.
O fechamento ou adiamento de exposições planejadas por meses,fez com que alguns galeristas corressem atrás de uma forma de mostrá-las mesmo que a distância. Foi o caso da Bergamin & Gomide e da Fortes d'Aloia & Gabriel. As duas pretendiam inaugurar a mostra "AAA - Antologia de Arte e Arquitetura" no galpão da Fortes, na Barra Funda, no último dia 21. Com o início da epidemia, porém, suspenderam a abertura. Mas já tinham investido na montagem da exposição, que apresenta interações entre a arte e arquitetura brasileira de quase 70 artistas.
"Já estava tudo pronto, e tínhamos gasto uma grana. Não dava para dizer: 'Vamos guardar isso para outro momento'", afirma Thiago Gomide, da Bergamin & Gomide. Eles filmaram vídeos curtos que percorrem a exposição e a relacionam com imagens e textos e lançaram num site que também pode ser acessado pelas páginas oficiais das galerias.
Alex Gabriel, sócio da Fortes d'Aloia & Gabriel, conta que o plano agora é estender o formato às outras mostras que exibia antes da chegada do coronavírus. Ele faz questão de diferenciar o modelo das salas de exibição da Art Basel Hong Kong ou da realidade virtual dos museus da plataforma Google Arts & Culture. "No nosso caso, é muito importante defender objetos reais. Essas coisas existem e têm uma materialidade", diz.
No geral, porém, os galeristas dizem que o clima não é de vendas. "Não é o momento de oferecer obras para vender, mas de tentar prover conteúdo e experiências diferentes", diz Roesler. "Exploraremos ainda mais formas de interagir com o público. Toda coisa ruim tem um lado bom." Gomide lembra que o cancelamento das feiras significa menos negócios fechados, mas também menos gastos. "Uma feira dessas pode custar R$ 1 milhão. Então, ao mesmo tempo, economizaremos muito, pois é nosso investimento mais arriscado e caro", diz.
A exceção são as vendas para colecionadores estrangeiros, afirma Gomide. Com a alta do dólar, ele conta que muitos donos de obras estão dispostos a oferecer grandes descontos em trabalhos, já que vão receber mais ou menos o mesmo que antes em reais. "Não vou ligar para um colecionador que está preocupado e perguntar se não quer comprar um trabalho. Mas se sei que ele está com 30% de desconto, e que a pessoa o queria muito, aí teria a cara de pau de ligar para um banqueiro", diz.