O encerramento da Mostra foi como um truque de magia bem feito: do jeitinho encantado que a criança gosta e merece. O show Partimpim de Adriana Calcanhotto encerrou o evento de forma delicada e inventiva neste sábado, em Florianópolis. O público de mais de novecentas pessoas cantou e se encantou com o projeto infantil da cantora e compositora.
No palco, a artista ergueu uma espécie de “quarto imaginário” feito de luz, cenografia mínima e gestos calculadamente brincantes. Entre os destaques estiveram canções já clássicas do projeto — casos de “Fico assim sem você”, “Formiga”, “Lig-Lig-Lig Lé” e “Baile Partimcundum” — cantadas em coro por crianças e adultos, que lotaram o espaço numa plateia multigeracional.
“É maravilhoso encerrar a Mostra porque quando começou esse evento não existia cinema brasileiro para as crianças e é isso: precisamos inventar essas coisas, assim como inventei isso aqui (o show), precisamos criar mais para as nossas crianças”, comentou a cantora.
O público deixou o teatro em clima de festa. Ao encerrar a Mostra com Partimpim, o festival reafirma que infância é também lugar de sofisticação — e que quando arte e cultura dividem a mesma frase, a cidade inteira ouve.
“É uma alegria imensa ter o show lotado, onde todo mundo que veio conseguiu entrar. Eu acho que o show dela comprova que criança não precisa só de loucura, de agitação. É uma música bonita, poética, com arranjos musicais maravilhosos, então eu acho que terminar com o show dela foi bem a vibe da Mostra”, afirmou Luiza Lins, diretora da Mostra.
Esta edição da Mostra bateu recorde de público: cerca de 46,3 mil pessoas — entre crianças e adultos — participaram da programação ao longo dos nove dias de festival. O resultado supera todos os anos anteriores e consolida o evento como um dos maiores encontros de cinema para crianças no Brasil.
“Foi muito emocionante, eu acho que a gente trouxe filmes muito emocionantes, que tocam questões sensíveis da sociedade. Eu percebo uma plateia muito madura, envolvida. E isso foi do começo ao fim. Começamos com a Orita Tabajara com uma dança indígena e encerramos com a Adriana Calcanhotto. Então eu acho que foi uma Mostra muito especial”, destacou Luiza.

Vencedores e Homenageados
O último dia da Mostra também foi marcado pelo anúncio dos filmes vencedores. O curta “Pipa e as ruínas do tesouro”, de Pedro Dias Lemos, foi o grande destaque escolhido pelo júri oficial. Já o júri infantil elegeu “Dandara”, de Raquel Rosa, que aborda a história de uma menina negra que enfrenta o racismo na escola e, com o apoio da mãe, aprende a reconhecer sua força e valor.
Segundo Vittorio de Castro Vamerlati, uma das crianças que integrou o júri infantil, a escolha se deu pela qualidade do filme e da história e completou sua fala, deixando um recado para todos: “Não importa a cor da pessoa ou quem ela é, todos podem ser bonitos como são”.
Na Mostra online, exibida pela plataforma Itaú Cultural Play, o público também pôde votar e escolher o vencedor. O curta premiado foi “O bicho que eu tinha medo”, de Jhonatan Luiz.
Na votação popular presencial, os vencedores foram o curta catarinense, “Notícias da Lua”, de Sérgio Azevedo, produzido na cidade de Brusque, e “Cascos de Patins (Hoofs on Skates)”, de Ignas Meilūnas, da Lituânia, na categoria internacional.
O diretor Sérgio, que esteve presente na cerimônia de premiação, falou da emoção em ganhar esse destaque. “Ficamos muito felizes com essa conquista, porque esse filme foi feito para o nosso filho Benício que passou aqui pela terra como um cometa e nos deixou com 15 dias de vida. Foi através da produção desse curta que conseguimos ter força para seguir em frente fazendo cinema e arte para crianças e adultos”. Além de Sérgio estavam presentes os diretores Nelson Yabeta (Lia faz um filme) e Betânia Silveira (A Viagem de Tete).
Também receberam menção honrosa os filmes:
• O Jardim Mágico – Direção: Naira Carneiro e Carlon Hardt
• Lulina e a Lua – Direção: Alois Di Leo e Marcus Vinicius Vasconcelos
• A Menina que Queria Voar – Direção: Tais Amordivino
• Temos Pão Caseiro – Direção: Val Rocha Pires
• Lia Faz um Filme – Direção: Nelson Yabeta
• A Viagem de Tetê – Direção: Betânia Furtado
• Quinn – Direção: Arthur Felipe Fiel
• Lupi e Baduki: O Enigma do Tempo – Direção: Anderson Lister
• Moça – Direção: Nahara Faussú
• Receita Cultural – Direção: Antonio Fargoni
Para encerrar a cerimônia, a diretora da Mostra, Luiza Lins, prestou uma homenagem especial à presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Maria Teresinha Debatin, e à ex-diretora de Difusão Artística, Mary Garcia, e ressaltou a importância do apoio cultural da FCC para o desenvolvimento das crianças
Mostra nas escolas
Mais de 40 mil estudantes de 150 escolas públicas da Grande Florianópolis assistiram a sessões gratuitas durante a semana da 24ª Mostra. Foram exibidos filmes nacionais e internacionais que dialogam com o universo infantil.
A “Mostra nas Escolas” é um dos pilares da Mostra, reconhecida nacionalmente por estimular a diversidade cultural e a reflexão crítica desde a infância.
Além da Mostra nas Escolas, recebemos também diversas escolas da capital. Ao longo da semana, recebemos cerca de 2.000 crianças, de 50 escolas da Grande Florianópolis, para viver a experiência do cinema na tela grande — com direito a pipoca depois da sessão, para tornar o momento ainda mais especial.
Algumas sessões ainda contaram com bate-papos com realizadores, aproximando as crianças das histórias e de quem as criou.
Preparação para 25ª edição
No ano que vem a Mostra completa 25 anos de história e promete ser ainda mais especial. Com uma seleção ímpar de curtas e longas brasileiros e participações especiais. A programação deve trazer ainda mais diversidade e obras do audiovisual brasileiro da melhor qualidade.
“Acredito que se neste ano já estamos em clima de celebração, os 25 anos da Mostra vamos celebrar ainda mais porque o cinema infantil no Brasil cresceu muito. Já colocamos o “carro” na estrada e agora é viver dia a dia, buscar, viajar, ir a festivais, conhecer coisas e trazer novidades. Porque a Mostra tem isso, eu sempre trago a novidade. Então, é isso, botar o carro na estrada e começar a pensar na 25ª Mostra de Cinema Infantil”, finalizou Luiza Lins.
Fotos: Carolina Arruda