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Longa, disponível na Netflix, é estrelado por Scarlett Johansson e Adam Driver
Lançado na última semana no catálogo da Netflix, História de um Casamento ganhou destaque na lista de indicados ao Globo de Ouro 2020: o longa-metragem estrelado por Scarlett Johansson e Adam Driver obteve o maior número de indicações, em seis categorias: Melhor Filme de Drama, Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante em Filme de Drama, Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora.
Na principal categoria da festa, que faz um aquecimento para o Oscar, a produção dirigida por Noah Baumbach (de A Lula e a Baleia) disputa o prêmio de Melhor Filme de Drama com O Irlandês, 1917, Coringa e Dois Papas.
Veja a seguir alguns motivos para assistir ao filme:
O casal Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), que tinha tudo para ter um relacionamento duradouro, está à beira da separação, sem motivo claro. Ao longo de duas horas e 17 minutos de duração, o filme se dedica a esmiuçar as consequências do fim desse relacionamento.
É a forma como o roteiro trata os detalhes o grande responsável pelo impacto do filme em qualquer pessoa que já tenha vivido um término de casamento ou namoro de longa data. Cada frase dos personagens faz diferença para a condução da narrativa: conflitos, diferenças mal resolvidas, a saudade de uma intimidade perdida, até mesmo a movimentação física dos personagens ajudam a criar a tensão e o conflito. É um roteiro que exige do espectador atenção aos detalhes e uma prova de que o melodrama é um gênero com potencial para ir muito além da choradeira e do ranger de dentes.
Desde que despontou como um rosto fresco e novo em Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, em 2003, e encarnou a personificação da mulher fatal do novo milênio em Match Point, de Woody Allen, dois anos depois, Scarlett Johansson tornou-se uma das estrelas incontestáveis do século XX. Atriz reconhecida desde a infância, ela vem construindo desde então um currículo invejável, em que alterna blockbusters como os filmes da Marvel, nos quais vive a Viúva Negra, prestes a ganhar filme solo, com obras de diretores de prestígio, como Dália Negra, de Brian De Palma, O Grande Truque, de Christopher Nolan, e Hail, Cesar!, dos Irmãos Coen.
Nesse contexto, História de um Casamento tem potencial para marcar um ponto de virada em sua trajetória. Muitos críticos têm apontado o trabalho da atriz no filme de Baumbach como o melhor de seus trabalhos. Para além das heroínas de ação que marcaram boa parte de sua carreira e do glamour que cerca muitos de seus papéis mesmo em filmes como Moça com Brinco de Pérola ou Don Jon, Scarlett aqui vive com autenticidade uma mulher comum em uma crise pessoal e consegue representar na tela com nuance e precisão a vulnerabilidade de Nicole.
Revelado como o peguete desengonçado de Lena Dunham na série Girls (2012), Driver rapidamente tornou-se um ator requisitado cuja carreira navega bem tanto em filmes independentes de grande ambição artística quanto em uma das maiores e mais lucrativas franquias cinematográficas da história. Tendo começado sua carreira em comerciais e programas de TV, Driver estreou no cinema em J. Edgar, de Clint Eastwood (2011). Nos cinco anos seguintes, ele emendou uma sólida sequência de pequenos mas marcantes papéis em produções como Lincoln (2012), de Steven Spielberg, e Inside Llewyn Davis (2013), dos Irmãos Coen. Pela mesma época, com uma atuação em Frances Ha, ele começou a parceria com o diretor Noah Baumbach, com quem voltaria a trabalhar em Enquanto Somos Jovens (2015) e em História de um Casamento.
Alto, com voz grave e uma aparência que é ao mesmo tempo atraente e fora dos padrões, Driver viria a se tornar um novo tipo de galã para o novo milênio. Também se tornaria planetariamente conhecido ao assumir o papel de Ben Solo/Kylo Ren na nova trilogia da saga Star Wars. Enquanto bate ponto a cada dois ou três anos como o sucessor de Darth Vader, Driver também tem conseguido manter-se na lista de opções de conceituados diretores, como Spike Lee em Infiltrado na Klan, Terry Gillian em O Homem que Matou Dom Quixote e Martin Scorsese em Silêncio. Em História de um Casamento, Driver mostra todo o amplo espectro de suas habilidades como ator, encenando com Scarlett Johansson um dos grandes duetos do ano.
Enquanto Nicole é mais sensível, a carga mais pesada do filme fica em Nora, interpretada por Laura Dern (a Renata de Big Little Lies). Como uma advogada especializada em casos de família, Laura criou um ar prepotente para a personagem.
Quando ajuda Nicole a preparar o discurso para o tribunal, que irá julgar a custódia do filho dela com Charlie, Nora imprime uma fala sobre a necessidade de as mães não mostrarem seus defeitos. Nicole pensa em confessar que, sem querer, pode ter insultado a criança após tomar uma taça de vinho, mas isto é reprimido pela advogada: "Você tem que ser perfeita, mas Charlie pode ser um puto desastre", aponta Nora.
Aos 50 anos, Baumbach é um diretor cuja carreira evoluiu mantendo uma estrita fidelidade a suas raízes firmemente plantadas no movimento independente americano dos anos 1990 que viria a ser apelidado de "mumblecore", privilegiando histórias comuns e de grande realismo emocional, longos diálogos e interpretações naturalistas. Baumbach chamou a atenção de um público mais amplo com sua comédia romântica inusitada Louco de Ciúmes (1997), sobre um jovem escritor que deixa o ciúme afetar seu relacionamento.
A consagração viria com seu longa seguinte, lançado quase uma década depois, A Lula e a Baleia (2005), sobre dois garotos no Brooklyn aprendendo a lidar com o divórcio dos seus pais na década de 1980. De lá para cá, Baumbach dirigiu nove filmes ao todo, e muitos críticos já apontaram paralelos entre sua vida e muitos dos temas tratados em seus filmes: o divórcio dos pais em A Lula e a Baleia, a crise de um diretor em Enquanto Somos Jovens e agora seu divórcio da atriz Jennifer Jason Leigh, tema que parece alimentar História de um Casamento.
Embora o diretor sempre negue os paralelos e insista que seus filmes são ficção, História de um Casamento expressa sua percepção sobre relacionamentos e términos. Embora hoje seus filmes tenham orçamentos melhores do que no início da carreira (mas ainda modestos comparados com outros pesos-pesados como Coringa ou O Irlandês), sua motivação continua sendo o confronto de visões entre os personagens, representados por atores dedicados e dispostos a entregar interpretações ricas e cheias de sutilezas.
*por GaúchaZH