Robert Plant relembra John Bonham e relata encontro inusitado com Tony Iommi em nova entrevista

06.11.2020 | 16h15
Marina Martini Lopes
Por Marina Martini Lopes
Editora
Robert Plant tem se dedicado à leitura durante a quarentena, mas ainda não está escrevendo novas músicas

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Let It Rock

O vocalista do Led Zeppelin concedeu uma longa entrevista à revista norte-americana Rolling Stone

Mais de meio ano depois que a quarentena imposta pela pandemia de coronavírus começou a afetar as rotinas de pessoas em todo o mundo, Robert Plant diz que está se sentindo relativamente bem: "Eu posso dizer que ainda estou respirando, tenho um certo senso de humor, e ainda consigo cantar", afirma o eterno vocalista do Led Zeppelin. "Mas não me pergunte que dia é, porque todos eles estão me parecendo muito iguais nesse momento."

A declaração foi dada à revista Rolling Stone norte-americana, que publicou uma longa entrevista com o músico no mês de outubro. Na conversa, Plant relembrou os planos que tinha para 2020: um tempo no estúdio e em seguida várias apresentações ao vivo com sua banda Saving Grace, que ele descreve como "um grupo pequeno tocando folk-rock psicodélico". Planejada para maio, a turnê foi empurrada para outubro, e em seguida totalmente suspensa.

De lá para cá, Plant tem passado o tempo lendo muito; mas diz que ainda não se sentiu inclinado a compor. "É muito difícil pensar em escrever canções agora, pelo menos para mim, porque estamos cercados por tantos eventos e circunstâncias, sendo afetados por eles, tendo que lidar com eles, que a quantidade de conteúdo é simplesmente vasta demais", explica. "Nós nunca fomos ameaçados por tantos lados diferentes, acho, pelo menos desde a Gripe Espanhola."

Em vez de trabalhar em material novo, portanto, o músico está fazendo exatamente o contrário: revisitando seu catálogo. Desde 2019, ele vem contando histórias sobre sua carreira no podcast Digging Deep; e, agora, compilou uma antologia em dois discos com todo seu trabalho musical pós-Led Zeppelin, batizada de Digging Deep: Subterranea. O registro inclui três faixas inéditas até então.

"Quando ouço [a coletânea], eu fico me perguntando se esse cara que escreveu e cantou as músicas de vez em quando fazia uma pausa", brinca Plant sobre o material. "Ele tirou férias alguma vez? Por que diabos ele não calava a boca um pouco e ia estudar algo novo, tipo matemática ou astronomia? Será que de vez em quando ele tirava férias?"

"Mas, sim, há muita energia ali", ele prossegue, ainda sobre Digging Deep: Subterranea. "Há épocas em que eu abraçava qualquer coisa que sentisse que podia fazer sucesso, e nos anos 1980 teve toda aquela revolução techno... Agora nós olhamos para trás e ficamos horrorizados", ele ri. "'Como você conseguiu trabalhar com esse tipo de porcaria, Robert?'. Bem, a resposta é: com muito entusiasmo, e uma quantidade considerável de barulho", brinca Plant. "Você não tem tanta pespectiva na hora, só se junta alegremente a cada nova coleção de ideias."

O artista também confirma que gosta de fazer referências a letras clássicas do Led Zeppelin em seus trabalhos solo: ele canta sobre "dancing days" em Dance With You Tonight; usa as frases "sing in celebration" e "the accident remains the same" em Great Spirit; e tem uma canção chamada The May Queen, que faz referência direta a Stairway to Heaven - e diz que nada disso é por acaso. "Sim, eu gosto da ideia de fazer isso - embora A Rainha de Maio ["The May Queen", em inglês] seja uma peça importante em nosso folclore, nossa arte folk. Mas esse tipo de coisa está espalhada pelo meu trabalho. É uma espécie de continuidade. Acho que meu favorito é em Charlie Patton Highway, quando eu canto 'this car goes 'round in circles, the road remains the same'."

Aos 72 anos, Plant parece de fato tranquilo em meio ao lockdown: "Eu tenho bons amigos, uma família forte, estou vivendo perto de pessoas que conheço há muito tempo, então há um ar de camaradagem e otimismo por aqui", relata. "E eu canto, o que é bom. Eu preciso cantar. Claro, no momento eu não posso ir cantar em um pub nem nada do tipo, mas eu tenho algumas outras vozes bonitas aqui comigo, e nós cantamos, o que é maravilhoso." Quanto ao que vem ouvindo, o músico diz ter adorado o novo disco de Bob Dylan: "É fantástico: soa como um epitáfio e um batismo ao mesmo tempo. É realmente muito bom."

Plant também relatou um encontro curioso acontecido logo antes do estouro da pandemia - com Tony Iommi, do Black Sabbath. "Foi em janeiro ou fevereiro", contou o vocalista. "Estávamos no mesmo aeroporto. Enquanto esperávamos, ele estava fazendo alguma coisa com a guitarra, e eu estava cantarolando alguma coisa, quando um cara apareceu e disse algo tipo 'Uau, vocês se reuniram de novo', como se fôssemos da mesma banda. Fiquei pensando que talvez ele achasse que estávamos fazendo algo como quando o Guns N'Roses se juntou ao AC/DC [Axl Rose atuou como vocalista do AC/DC durante o afastamento de Brian Johnson por problemas de saúde]. Achei muito engraçado. Então brinquei com Tony: 'Vamos lá, você podia tocar Kashmir enquanto eu canto Paranoid [risos]."

Por fim, Robert Plant também lembrou de John Bonham, baterista do Led Zeppelin morto em 1980: há poucas semanas, os fãs fizeram diversas homenagens, em função dos 40 anos da morte do músico. "Há muitas pessoas que já foram próximas de mim que não estão mais conosco, mas ele ainda é muito onipresente, porque nós começamos toda essa aventura juntos", comentou Plant.

"Quando ouve as gravações dele, você percebe a contribuição que ele deixou para o mundo da música, da bateria - ele simplesmente transcendeu todos os outros caras", prosseguiu o artista. "Foi por causa dele e de Jonesy [o baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones] que o Led Zeppelin se destacou no meio de tanta coisa que estava acontecendo naquela época. Quarenta anos depois, ele ainda é uma grande perda para todos nós. Mas eu tenho certeza de que ele está por aí, em algum pub, dando risada de alguma piada."

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