ENTREVISTA: Adrian Quesada, do Black Pumas, fala sobre o novo disco e vinda ao Brasil

26.09.2023 | 12h47 - Atualizada em: 26.09.2023 | 13h27
Foto do colunista em frente a uma parede de museu.
Por Lucca Cantisano
Imagem de Adrian em conversa por vídeo.

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O produtor, multi-instrumentalista e metade do Black Pumas está lançando o segundo single do novo disco e conversou com a Itapema.

Com apenas um disco, lançado em 2019, a Black Pumas, formada pelo produtor e guitarrista Adrian Quesada e o vocalista Eric Burton, se lançou num sucesso repentino que acumulou milhões de ouvintes mensais e sete indicações aos Grammy Awards. Com passagem pelo Brasil em 2022, o duo se tornou um fenômeno do neo-soul psicodélico e seu som nostálgico e fresco ao mesmo tempo tomou o público e a crítica. A parceria, que surgiu de uma conexão em comum entre os dois enquanto Quesada procurava um vocalista, pareceu fadada a acontecer.

Agora, três anos e centenas de shows depois, o duo está pronto para lançar seu segundo disco, "Chronicles of a Diamond", em outubro. Depois do primeiro single, "More Than a Love Song", já ter sido divulgado há um tempo, o segundo single que anuncia o disco, "Mrs. Postman", chega hoje e já entra na programação da Itapema.

Adrian me atendeu pelo Zoom e conversamos sobre o novo disco, o sucesso dos últimos anos e até uma vinda ao Brasil! Confira abaixo a entrevista completa:

Primeiramente, como você está se sentindo de forma geral com o lançamento desse novo disco?

“Ah cara, estou tão animado, é difícil de acreditar que finalmente vai sair, sabe? Nós estamos trabalhando nele há tanto tempo, e eu ouvi o álbum tantas vezes que eu estava… Quanto mais você ouve mais você começa a questionar 'Será que isso é realmente bom?', mas agora que mais pessoas estão ouvindo as novas músicas em que trabalhamos e reagindo a elas é uma sensação ótima, porque é por isso que fazemos em primeiro lugar.”

Eu imagino que com a aclamação e as nomeações ao Grammy do primeiro álbum haja alguma pressão para chegar ao mesmo nível. Como estão lidando com isso?

“Absolutamente. Não havia pressão alguma quando fizemos o primeiro álbum, literalmente nenhuma pressão pois estávamos fazendo por diversão. Mas dessa vez definitivamente havia pressão. Acho que tivemos que nos relembrar que o que fizemos no primeiro álbum foi fazer música que nós gostaríamos de ouvir e que nós gostamos, e tivemos que nos lembrar que enquanto estivermos fazendo isso e fazendo algo que nós achamos que é bom as pessoas vão se conectar, sabe? Se vai ser maior que o primeiro disco ou vai ter outra música como 'Colors' ou coisa assim eu não sei, não tenho como saber, mas posso dizer que tivemos que parar muitas vezes e pensar na pressão e como lidar com ela e acho que quando chegamos num lugar onde não estávamos pensando sobre a pressão e estávamos apenas pensando sobre o álbum daí eu acho que a música começou a realmente sair. Além disso, a maior pressão na verdade era de nós mesmos, querendo ser melhores do que no primeiro álbum, então isso era outra camada. Mas eu acho que uma vez que chegamos naquele lugar no fim nós esquecemos disso tudo e só fizemos o melhor álbum que pudemos fazer.”

Falando no novo disco, como foi diferente o processo de fazê-lo em comparação com o primeiro álbum?

“O processo foi muito diferente. Quando fizemos o primeiro álbum eu queria que ele parecesse ao vivo, com os músicos tocando ao vivo no ambiente e foi assim que todo ele foi feito, com uma banda tocando ao vivo num ambiente, e alguns dos vocais do Eric também foram gravados ao vivo com a banda, e muito pouca edição e processamento foram feitos. Neste eu realmente queria usar o estúdio como uma ferramenta e muita manipulação e mudança nos sons foram feitas, a gente até gravou ao vivo com uma banda mas fez muita programação de bateria e mudamos coisas aqui e ali e usamos o estúdio como um instrumento, então eu acho que isso fez o álbum… Sabe, uma das minhas coisas mais importantes era não repetir o primeiro disco, então eu acho que dessa vez nós nos aproximamos do material sem regras. No primeiro era tipo 'Ah, as baterias precisam ser ao vivo e não podemos usar samples.' Mas neste foi totalmente sem regras, com o que produzia as melhores músicas, mas ainda tem muito da banda ao vivo tocando, o que é legal.”

Vocês tem um som que evoca muitas músicas antigas, especialmente dos anos 1960 e 1970, mas nunca parece exatamente aquilo, sempre é algo novo e original. Quando você faz música, como você trafega por essa linha?

“É, essa é uma boa pergunta, porque nós definitivamente não queremos que pareça como se estivéssemos tentando soar como um disco antigo ou algo assim. Nós realmente ouvimos muita música antiga, predominantemente, eu e Eric, mas nós também somos grandes fãs de hip hop e jazz contemporâneo e outros artistas que estão mexendo nos limites e coisas assim, então nós não tentamos soar como nenhuma era específica, o mais importante é que soe como nós. Claro, tem referências à música soul antiga e tem referências ao rock n' roll e tudo, mas tentamos ainda que o disco soe como feito em 2023.”

Agora falando de "Mrs. Postman", que é o novo single que estão lançando, é uma música muito bela e alegre, com uma perspectiva única para algo que é comum no dia a dia. Foi inspirada por algum momento específico? De onde veio?

“O Eric escreveu a letra para esta e ele estava me contando, acho que foi inspirado por uma moça na vizinhança dele que vinha e trazia as entregas, e acho que até ele tem um parente que é entregador de cartas, então eu acho que são as coisas simples e pequenas assim que podem nos inspirar às vezes. Eu não sei os detalhes sobre cada frase ali, mas eu sei que ele definitivamente foi inspirado por uma entregadora de cartas que vinha até a vizinhança dele. Musicalmente, essa é a única música, ou uma das únicas, que já fizemos em que trouxemos outra pessoa para ajudar a compor, e foi o JaRon, nosso tecladista para o Black Pumas, JaRon Marshall ajudou a escrever e produzir essa música e Eric e eu estávamos falando sobre isso na semana passada na verdade: como JaRon compôs parte da música, ele fez algo totalmente diferente do que acredito que Eric e eu faríamos, e isso adicionou algo alegre que acho que inspirou parte da letra.”

Tanto essa música quanto o outro single que vocês lançaram têm uma influência da música gospel. De onde veio essa inspiração?

“Sim, é, eu acho que Eric e eu somos grandes fãs de corais gospel e coisas assim. Eric definitivamente cresceu no ambiente da igreja e acho que isso adentrou ele como pessoa e na inspiração que ele pega dessa música. Ambos somos fãs de muita música gospel com funk do início dos anos 1970, acho que o exemplo mais óbvio é um artista chamado Pastor T. L. Barrett que fez um incrível álbum gospel cheio de soul, e nós costumávamos ouvir muito dessa música, e acho que uma parte veio também do nosso show. Quando tocamos 'More Than a Love Song', nosso primeiro single que saiu, em shows, sempre tínhamos uma parte no fim que remetia a uma coisa gospel e adaptamos isso para o álbum. Temos alguns momentos assim no álbum, em que o sentimento poderoso de muitas vozes em um ambiente era algo que queríamos capturar.”

No início você disse que o que você queria fazer com esse álbum era não fazer a mesma coisa mais uma vez. Musicalmente, aonde isso te levou?

“Ah, isso foi incrível, sabe? O Eric também fez coprodução nesse álbum e ele chegou a muitas das novas ideias de um lugar totalmente diferente. Ele começava num sintetizador ao invés de começar numa guitarra, eu acho que muito do nosso primeiro álbum foi composto por ambos na guitarra, e sabe, ele trazer novas ideias assim, sem regras… Sabe, foi um pouco difícil colocar todas essas ideias juntas e fazer uma música que se encaixava com as outras músicas, mas nós nos aproximamos do início das músicas de forma totalmente diferente desta vez. Às vezes as ideias vinham de um loop de bateria, às vezes vinham de um sintetizador, às vezes de uma guitarra. Nós tentamos mudar um pouco a fórmula para que não fizéssemos algo que parecesse só uma repetição do primeiro álbum.”

Estou falando do Brasil, claro, então queria saber se você tem influências musicais brasileiras. Talvez no álbum ou na sua vida.

“Ah, sim, eu ouço muita música brasileira. Logo antes de entrar aqui no Zoom eu estava ouvindo um álbum do Tim Maia, e, sabe, Jorge Ben, e eu sou muito fã da música do início dos anos 1970 do Brasil, sabe? Eu acabei de ver Arthur Verocai em Los Angeles há um mês. Muito dessa música foi uma grande inspiração para o que eu faço, com certeza.”

E quais foram, na sua cabeça, as maiores inspirações para esse novo álbum?

“Eu não sei se consigo te dizer quais foram as principais inspirações, é meio misturado, nós nunca fomos artistas que conseguem dizer ‘essas foram as duas, três coisas que nos inspiraram’. Quer dizer, tem algumas músicas ali que, sabe, eu não conseguiria te dizer de onde veio a inspiração… Tem uma música no disco chamada ‘Hello’ que Eric escreveu no sintetizador, e eu não conseguiria te mostrar outra música que soa como aquela, eu nem sei, sabe? Então meio que só vem de onde vem.”

E o que os fãs de Black Pumas podem esperar desse álbum?

“Sabe, ainda soa como o Black Pumas, ainda é identificável como nós, mas acho que você consegue ouvir a evolução de quem somos como artistas e colaboradores. Tínhamos acabado de nos conhecer quando começamos a fazer o primeiro, e agora nós saímos em turnê por quase quatro anos e tocamos centenas de shows para pessoas ao redor do mundo e eu acho que você pode ver nossa evolução, sabe?  Nós nos conhecemos melhor, nós trabalhamos melhor em música. Foi um álbum difícil de se fazer mas eu acho que é um álbum melhor em geral do que o primeiro. É diferente, eu não diria que um é muito melhor do que o outro mas eu acho sim que é um álbum mais confiante.”

Você acha que a química entre vocês trabalhando juntos se tornou mais madura para esse novo disco?

“Sim, absolutamente. Nós sabemos nossas forças e fraquezas agora, nós sabemos o que funciona e o que não funciona e como estamos mais confiantes e mais confortáveis fomos capazes de tentar novas ideias que provavelmente não teríamos tentado no primeiro disco.”

E, por fim, podemos talvez esperar que vocês tragam esse show para o Brasil?

“Absolutamente! Isso é algo que está sendo discutido agora mesmo para o próximo ano, com certeza. Eu sei que uma das nossas melhores e maiores bases de fãs fora dos Estados Unidos são no Brasil. Nós tocamos no Lollapalooza no ano passado e estávamos super animados para ir até aí, então acredito que há datas da turnê no Brasil vindo para o próximo ano.”

"Chronicles of a Diamond" sai no dia 27 de outubro pela ATO Records. "Mrs. Postman" está disponível agora nas plataformas e na Itapema FM.

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